“Ah! Mas o que queremos é recuperar o «espírito» dos Templários!”
Ora bem, ninguém é templário por querer recuperar o espírito
seja do que for. Em primeiro lugar o espírito não se “recupera” porque nem está
doente, nem é “recuperável”. Ou está ou não está. Em segundo, há aquela noção
muito estranha de que o espírito é o auto-convencimento, a sugestão e até mesmo
a auto-sugestão. O espírito parece estar muito distante de tudo isso. Conquista-se
e não se conquista. Não há diferença entre uma criança que finge ser índio ou
cowboy depois de ver um Western e este tipo de “espiritualidade” templária
feita à custa de várias imagens e de várias leituras. Como já disse num dos
textos deste blogue, se formos por aí, todo o mundo é uma mera e grande
sugestão até porque estamos rodeados por símbolos quer tenhamos consciência
deles ou não. Viver a vida com
sinceridade parece ser hoje o mais difícil, sem artifícios neo-rituais. Em
terceiro, a vontade é surpreendentemente simples e lembramos que a vontade é atributo
da Iniciação ao contrário do que se passa no misticismo (como bem apontou Guénon)
cujo caminho pode desembocar, ou não, na Iniciação e se o faz é porque sim. Apenas
porque sim. Lembro que Dalila Pereira da Costa faz exactamente a mesma
distinção como já foi apontado também num texto deste blogue (os interessados
que façam o favor de ter vontade e de procurarem porque o facilitismo desta época
é a base da inércia que é o oposto da vontade).
A vontade, aqui, aparece como uma palavra isolada porque,
neste caso, ela é tudo. Ela não necessita de paramentos, de rituais, de fardas,
de armaduras ou de palavras outras, quaisquer que sejam.
Evidentemente que estamos num estado de pré-guerra se é que
não é já mesmo de guerra, mas nunca estas foram ganhas com boas intenções (está
cheio, está). Elas são travadas com e para o Espírito ou contra ele. Se se
parte do princípio de que o Espírito é algo que se perdeu e que tem de ser “recuperado”,
então estamos a ver tudo ao contrário. Se se parte do princípio de que o
Espírito é obediente ao “auto-convencimento” ou à sugestão auto infligida ou
não, então é uma imagem rarefeita e invertida do Espírito, porque
definitivamente isso não é Espírito. E se se parte do princípio de que o
Espírito pode ser evocado então estamos a falar de magia porque estamos a falar
de evocações. Não me parece que o Espírito vá nessa… porque seria contradizer
as palavras do Evangelho de Mateus. “Onde dois ou três estiverem reunidos em
meu nome, Eu estarei presente no meio deles”.
“Em meu nome” não é o mesmo que dizer “a chamar por mim”. O nome é uma
presença, neste caso, se partirmos do princípio que Cristo é espiritual, então
faz sentido e, ou está, ou não está.
Tudo isto se torna deveras complicado porque não estamos a
falar de crianças que “querem” e são até capazes de fazer birra no
supermercado. O terreno é quase paradoxal sem chegar a sê-lo. Conquista-se e
não se conquista. A vontade é uma palavra isolada de tudo e, no seu último grau
(na sua elevação máxima) é união.
Deste modo podemos dizer que esta onda neo-templária é produto
da política, com o seu modo de ser desenraizado, sem espírito (está perdido,
não é? Um pormenor engraçado: a Catarina a quem dou explicações, disse-me no
outro dia que tinha pena de ter deixado de ser um espermatozoide porque, por causa
disso, tinha que fazer os trabalhos de casa – cada um sabe o que perdeu…), sem
sabedoria e, quando é assim, mais vale reconduzir as pessoas à realidade,
colocando-as a limpar o chão, a lavar a louça, a fazer os trabalhos de casa e
coisas assim, até que… talvez sim, talvez não. Depende da vontade e de como é
escutada. E do “porque sim”, claro. Pelo menos é uma forma sincera de estar na
vida, ou de fazer um trabalho honesto como diz o povo.
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