segunda-feira, 21 de outubro de 2019

Ele não engana


Nesta época de fragmentação a caminho da dissolução, o hiato entre a palavra e a imagem é cada vez maior. Se no início andavam juntas, agora, as palavras parecem por vezes um pouco perdidas e as imagens, sem essa irmandade da palavra, são cada vez mais ilusórias. Tornou-se muito mais importante mostrar o rosto do que mostrar as palavras ainda que o rosto seja uma breve fotografia, tirada num breve segundo, uma captação de coisa nenhuma a comparar com as imagens que somos durante uma hora, por exemplo. A imagem foi, a pouco e pouco tomando o lugar da palavra de honra, dar a cara tornou-se muito mais importante do que dar a palavra de honra. A palavra de honra está ligada a uma franqueza absoluta do coração. A imagem, sem a palavra perde essa franqueza. Qualquer escola de actores sabe isso. É assim que podemos ver pessoas com uma excelente imagem que projectam para fora a vacilar na franqueza do coração que nada mais é do que a honra. Qualquer gesto que façamos, para além da imagem que lhe é inerente, vem acompanhado da palavra. Essa palavra pode ser de honra ou não. Aquilo que é mais difícil de encontrar são as duas coisas juntas. O gesto e a palavra de honra. Até porque a palavra e a imagem andam cada vez mais separadas. O algodão divino não engana. Numa guerra "absolutamente imaginária" estas coisas pesam muito. Neste mundo verdadeiramente de faz de conta, sem aspas, estas coisas não pesam nada. É por causa disso que se assiste a tantos e tantos a vacilar. Como se, no íntimo, soubessem que alguma coisa não está bem e, é claro, soubessem também que o algodão divino não engana. E tem sido tão fácil fazer o teste.

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