segunda-feira, 29 de abril de 2019

Na aldeia e na ideia


A minha vida social na aldeia tem sido muito mais intensa do que alguma vez foi em Lisboa (excepto na juventude e na infância). Depois, pela noite, leio coisas longínquas e próximas como a aldeia e a ideia. Quando vou a Lisboa sou uma saloia sem ideias, na aldeia sou lisboeta sem ideias. As ideias são nocturnas e mal se dá por elas, são como a seiva de uma árvore. A seiva daquilo que somos. Quando digo que estudo todos mudam de assunto alegremente, as pessoas da aldeia regressam rapidamente às suas árvores de fruto, os de Lisboa não ouvem sequer porque perderam os ouvidos no longo e árduo caminho da civilização. Assim, pelo silêncio da noite, estudo. As estrelas escutam. O universo age em conformidade. E nada, após cada noite, é como dantes.

sábado, 27 de abril de 2019

Oralilolela...


No mundo esotérico e filosófico esquecem-se que a espiritualidade não é trabalho nem é conhaque. É assim uma coisa intermédia. Quando querem puxar para o trabalho dizem que é trabalho, quando querem puxar para a espiritualidade dizem que é espiritualidade e daí que certas coisas se tornem impossíveis de resolver. Ainda me hão-de explicar porque é que separam o privado e o pessoal do público se depois para o público tem de se ser bom em privado e vice-versa. É que a espiritualidade não é um emprego nem um departamento da função pública.

sexta-feira, 26 de abril de 2019

Olhos


Os admiradores da Grande Deusa



Os admiradores da Grande Deusa pensam que sabem qual é o lugar da Mulher, tal qual os parolos dos Padres. É por isso que já não tenho paciência para os ouvir. Procuram um orgasmo maior e nada mais obtido à conta de auto-sugestões sobre a Grande Deusa. Depois julgam assimilar parte dela. Mas é momentâneo, passageiro e logo, não é iniciático. O que é iniciático permanece para sempre. Daí que contribuam para a grande confusão geral. A deusa nada mais faz do que despertar a substância que trazemos de nascença. Apenas isso. Pensar que é mais do que isso é deveras um engano. Esse "despertar" é mais comum do que se pensa, apenas um pequeno passinho (inacessível aos admiradores incondicionais da Mulher como Grande Deusa e acessível, mediante determinadas condições aos decifradores de símbolos). A iniciação em si só se dá posteriormente, quando se dá. Julius Evola enganou muitas pessoas porque lhes deu a entender que o meio do caminho era o caminho todo.

A Grande Deusa


Os parolos da Grande Deusa são tão ou mais beatos como os padres mais parolos. Isto porque nunca foram verdadeiramente iniciados. Se o fossem não eram parolos. Davam muito mais atenção aos símbolos em si. Depois, seriam iniciados e depois deixariam definitivamente de ser parolos porque a Ordem de Grandeza seria outra. Primordial. Já não consigo ouvi-los falar das mulheres. São chatos e paranóicos e contribuem para o Estado Geral das Coisas que é caótico.

Instituições


Qualquer instituição em Portugal é hoje um barril de pólvora e isto porque os portugueses sofreram uma mutação genética: o mesmo povo que conseguiu unir-se e lançar-se nos Descobrimentos é o mesmo que hoje não consegue nem uma empreitada. Deixámos de saber ter um objectivo maior do que nós. Não o temos, de facto. Encontramo-nos demasiado fragilizados por séculos de Inquisição, meio século de Ditadura e quase meio século de Democracia mal parida, mal crescida e mal frequentada. O que fomos, já não somos. Todas as instituições possuem os vícios dos três erros da História de Portugal pós-Descobrimentos: Inquisição, Ditadura, Democracia em proporções diferentes conforme os casos. Junte-se a isto a cultura geral da Ignorância que infestou todo o planeta e temos um país sem rumo dançando ao toque dos defeitos nacionais e dos interesses internacionais. É o nosso Sol e o nosso sorriso natural para os estrangeiros aquilo que ainda nos mantém de pé. Não temos violência nas ruas porque ela está difusa, espalhada pelos lares, espalhada por todas as instituições. Quem mantém a alma portuguesa é quem, no seu pequeno mundo, consegue fugir a estes defeitos. Quem mantém a sua alma viva e acessa, quem não tolera nem Inquisições, nem Ditaduras, nem Democracias que são oligarquias económicas disfarçadas, quem acredita num rei, quem pede para saber mais, quem vai dar uma volta em vez de bater, quem bebe vinho sem culpa, quem escreve sem compaixão pelo critério dos outros, quem cria a partir de dentro e quem, sempre que pode, foge de qualquer Instituição. Elas minam o país, as pessoas e o futuro de Portugal.

quinta-feira, 25 de abril de 2019

As fontes



Quando a confusão é muita, limpa-se a tela.
Tenho por isto uma conduta frequente. Chego a varrer as pessoas à minha frente e penso nelas como cenário. Isto em casos extremos. No geral, a tela em branco é uma simples paisagem que vive por si. No campo das "ideias", esta conduta também não é má. Foi assim que dei por mim a rever a História do Esoterismo (aquilo que se entende por História: uma sucessão de acontecimentos no espaço e no tempo) e, ao revê-la cruzei-a com dados pessoais e intransmissíveis. O resultado tem sido qualquer coisa como as perguntas: onde é que em Portugal podemos encontrar elementos que tivessem pertencido à Tradição Primordial? E onde é que sobrevivem?
Passada a confusão em que fui mergulhada, e digo fui, porque isso aconteceu efectivamente, passei por um período de "nojo" a tudo o que fosse dessa área. E no fundo era o "nojo" nos dois sentidos. Passado esse período no qual nem sequer podia olhar para um livro dessas temáticas iniciei a re-leitura de algumas fontes - quanto mais antigas no tempo, melhor. As heranças do século XIX são qualquer coisa de abominável. Aliás, esse século só prestou nas artes e pouco mais e os que lhe sucederam ainda mais tristes foram.  A crise já vem de longe, de mais longe do que o século XIX. Houve com tudo isto uma espécie de nascimento de "olhar límpido" capaz de ver limpidamente. Aquilo que vejo na actualidade não é muito agradável. As pessoas estão confusas. Tão confusas que se atiram para o "imaginário" de qualquer maneira. Vão como estão. As consequências são hilariantes, por vezes, sobretudo pela contradição. Dizem coisas absolutamente estranhas e actuam com o possível rigor àquilo que dizem, já por si estranho. É assim que se vêem nascer novos templários, novos bruxos, novas Inquisições, novos Martinismos, novos Merlin's, novos isto e aquilo. Não se trata bem de uma continuação daquilo que ou já tinha morrido ou já tinha nascido torto. Não. É mesmo a novidade total. A re-invenção raia a certeza inabalável nessa novidade como facto consumado. Em Jerusalém  é possível ver caminhar alguém vestido de Napoleão, absolutamente convicto que é Napoleão. Este tipo de loucura aparece nas cidades muito fortes em História. Vários artistas enlouqueceram em Florença dando o nome à doença: "A loucura de Florença", devido à beleza que por lá se encontra. Há qualquer coisa que cede nas pessoas hoje. Que se quebra. E, de um momento para o outro, ganham uma nova, novíssima identidade ainda que mascarada de passado.
A Tradição não é nada disso. O que me interessa são os símbolos e a forma como estão presentes numa cultura. Esses sim, são veículos de alguma coisa longínqua. Para os alcançar, por vezes, temos de caminhar para além do espaço e do tempo, o que é completamente diferente de nos mascararmos de personagens que existiram na História. Mesmo até diferente de nos mascararmos daquilo que entendemos terem sido os mestres... O vazio da nossa época também é alimentado por esse tipo de comportamento nos meios "esotéricos" que acabam por contribuir para o vazio absoluto da própria vida. Quero com isto dizer que, aquilo que procuramos, por vezes, está debaixo do nosso nariz num disfarce de simplicidade (é o oposto da mascarada), daí que não seja visível. E quando se consegue ver, é espantoso. Para isso, há que ir às fontes e saber onde elas estão. 

terça-feira, 23 de abril de 2019

Somos tão leves

https://www.rtp.pt/noticias/mundo/dia-da-terra-planeta-perdeu-40-por-cento-dos-animais-em-50-anos_v1143009

Somos talvez a humanidade mais vaidosa e pretenciosa que andou pela terra. Confundimos "tecnologia" com evolução e o índice de informação generalizada não serve para absolutamente nada daquilo que é essencial. Ainda assim, olhamos para a nossa civilização como se ela fosse o "topo" delas todas devido ao conforto que adquirimos. Para o fazer tornamos a vida de outros seres na terra tão desconfortável que desaparecem. Evidentemente que sempre existiram animais que desapareceram, a diferença está no "fluir" natural da natureza. Os que acreditam no destino olham para algumas guerras (aquelas que não lhes interessam porque outras são legítimas, no seu entender) e também para o terrorismo como se fosse uma aceleração de um processo - os que assim morrem, morrem mais cedo do que era suposto e dai a aceleração do próprio tempo, para além da do processo - e, consequentemente, isso tem como preço o desequilíbrio. A aceleração do desaparecimento dos animais, terá, igualmente, como consequência o desequilíbrio, só que este é ainda pior porque arrasta tudo atrás: pessoas, clima, vegetação e por aí fora. Fala-se noutros planetas como possibilidades ou alternativas à vida na terra. A escumalha humana com o pretexto de "conhecer" prepara-se para a "fuga" que poderá ser feita apenas por alguns "mais previligiados", mas igualmente escumalha porque de "elite" não têm nada. E levarão com eles a escumalha que são. Todos os esforços para "conhecer" outros planetas espiritualmente são igual a nada. Há quem se deixe enfeitiçar pelas fotografias dos "buracos negros", dos "planetas distantes" e por isto e por aquilo. Nada disso conta nem sequer tem peso porque um dia optaram por aplicar as suas "ciências" para o céu em vez de as aplicarem no equilíbrio terrestre. Talvez os da física quântica já tenham percebido que tudo é "mental" (não é racional é diferente), não sei porque ainda não li "as últimas" da ciência e que muito provavelmente não estão acessíveis ao grande público super-mais-do-que-informado e completamente mal formado. Se já "descobriram" que "tudo é mental" imaginarão (mas não o dizem) as consequências desta civilização abaixo de selvagem, se ainda não o fizeram é uma pena que estejam tão atrasados. "Basicamente" como se diz em "americanez" nem avançamos nem regredimos, limitamo-nos a ir transformado o planeta no local inabitável e isso tem consequências. Fazêmo-lo com um sorriso no rosto como se vivêssemos no melhor dos mundos e acreditamos piamente que vivemos no melhor dos mundos (que está a apodrecer a olhos vistos). No outro dia dei de caras com uma "artista plástica" que gosta muito de fazer bonecadas nos i-pods ou i-pads ou lá o que é. Estava na televisão a falar. Nem lhe sei o nome, só sei que casou ou se juntou há um tempo com aquele músico "Gil" que pertenceu à Ala dos Namorados e a outros grupos. Refiro-me directamente à senhora porque aquilo que se diz tem consequências, e dizia a "artista moderna" que "a tecnologia tinha sido o melhor que nos tinha acontecido" e com um riso, um sorriso e um riso e lembrou "é claro que a tecnologia nasce das guerras, depois têm outras aplicações e, depois, nós, os artistas, aproveitamos para criar". Pior do que a estupidez a que assisto tantas vezes na televisão é ver o desfile da ignorância. A mão humana é insubstituível, mas ela ainda não percebeu isso. Depois há também o pormenor da desumanidade assumida: para a senhora fazer uns bonecos no computador morreram milhares de forma "acelerada". Mas os "artistas" são superiores a isso tudo. São os "artistas", são os "cientistas", são os "políticos" e são as pessoas em geral por osmose. Bem, mas o que interessa é conservar o sentido de humor e ter esperança, são estas as virtudes da moda: o Papa disse isso e Paulo Portas sublinhou. Agora, não sei é por quanto tempo nos vamos andar a rir e a poder ter muita esperança. Uma gargalhada, aqui e ali, também a dou e a única esperança que alimento é a de uma verdadeira lição que entre definitivamente nas cabeças e no corações dos homens. Esse tipo de lições raramente são "consciencializações" lentas que acabam por fazer parte da estrutura do ser humano. Já a Europa se tinha consciencializado  dos "valores da democracia" quando caíram duas guerras sobre ela. E agora, os extremismos evidenciam bem o que são essas "consciencializaçoes" lentas e progressivas feitas "pela educação": caem mais depressa do que uma pesada gota de chuva...  Assim, as lições verdadeiras são aquelas que atingem todo o ser como uma Revelação o faz - a consciencializaçao tem o mesmo valor do que a visualização, ou seja, nenhum - e as Revelações não são pêra doce, nem são fáceis, nem levezinhas como uma ida ao cinema. Uma das coisas que Revelam é o nosso verdadeiro lugar no meio disto tudo: previligiado, por um lado, como seres humanos que somos, e, por outro lado, frágeis perante um tornado. E se fizerem híbridos (metade máquinas, metade homens) para fugirem a essa fragilidade, esse será o acto mais estúpido que se pode fazer: é que somos tão frágeis que nem nos aguentamos como seres humanos e lá se vai o lugar previligiado... no meio desta imensa "manifestação" que é esta parte do Universo. Mas o fundamental parece ser "morrer a rir" e "morrer com muita esperança em que nada vai morrer" - isso é assim no "alto", enquanto estivermos cá em baixo, abaixo de cão ou de qualquer outro animal, esse riso e essa "esperança" vaga no "geral" e no "colectivo", é apenas um suicídio dos tolos que o fazem porque alguém lhes disse: "Atira-te da ponte a rir e com muita esperança na humanidade".  É só mais uma forma de acelerar o processo, mais nada. E isto para não dizer "terrorismo" porque é uma palavra muito feia e nós somos "superiores", não somos uma civilização de terroristas. Pois.

domingo, 21 de abril de 2019

Coincidências (in) significaticas


A maior parte das coincidências no curso da minha vida foram insignificativas. Outras foram muito significativas. Dir-me-ão que relativamente às insignificativas a falta será minha porque não lhes vi o significado. Permanecem, por isso, insignificativas. Não digo insignificantes porque a determinada altura passei a utilizá-las para ir sabendo mais umas coisas. Um exemplo: um nome, um animal etc, que me surja recorrentemente ao longo de vários dias e não lhe captando sentido nenhum, passou a ser aproveitado para saber mais. Creio que foi à conta disso que acabei por ler vários dicionários de símbolos de forma se não completa, quase completa. Ou seja, não lhe dei um peso por ali além mais acatei a sugestão do destino para ir sabendo outras coisas. As outras tiveram todo o peso do mundo. Com o passar do tempo dizem que nos recordamos das coisas mais distantes na memória e as mais esquecidas também. Isso é uma imagem por refracção, uma imagem fraca do que se passa, a páginas tantas, com alguns percursos iniciaticos (senão com todos), em que a vida para trás adquire uma dimensão simbólica e uma interpretação (que nada tem de psicanalítico ou de moral) de que até aí não era alvo de suspeita sequer. O mais maravilhoso em tudo isto é a grande mistura entre aquilo que é verdadeiramente único em cada vida e aquilo que é susceptível de ser entendido por meia dúzia de pessoas, se tanto. A maioria das vezes em que dizemos "entendo" é um puro acto de imaginação. Imaginamos que entendemos e convencemo-nos que entendemos até que um dia, a vida, lembrando-nos que não entendemos nada de facto, nos leva, por fim, a entender. Ou não, depende dos casos e daquilo que há para entender.

sexta-feira, 19 de abril de 2019

As relações entre o alto e o baixo


Se estes caminhos fossem sistémicos, coisa que não são, não poderia contar a história verídica de um Arcebispo da Igreja Ortodoxa Grega que para avaliar a pintura de ícones dos seus aprendizes de pintura, virava a pintura ao contrário pois só assim conseguia avaliar o estado de espírito do pintor. Também não vos poderia falar da árvore invertida, cujas raízes estão no céu e que representa o verdadeiro ser humano. Também nada teria a dizer da gruta que é a montanha de pernas para o ar, gruta de luz e dos seres nascidos nessa luz, e do arco-íris reflectido nas águas nada teria a lembrar René Guénon quando assim o relaciona com o ovo do mundo, luminoso, igualmente. De maneira que as relações entre o alto e o baixo, entre o céu e a terra, entre o céu e o Inferno, terão ainda mais para dizer. Dante reparou nisso, por acaso. Um dia pediram-me para fazer um arranjo de flores ao contrário, e lá do céu, olhando para baixo, a terra parecia outra. Se houvesse um sistema, assim direitinho que pudéssemos seguir como um livro de instruções, seria tudo mais fácil. Mas não teria nem tanta graça nem tanta Graça. Não há vidas repetidas e é por isso que a moral anda muito perto da idiotia.







O coelho e o ovo



Então aqui vai, sem rede. Ou seja sem dicionário de símbolos.

Páscoa - coelho - ovo - fertilidade - Primavera.

Fertilidade - Primavera - devia ser início do ano (é no Budismo: o primeiro mês anda mais próximo do equinócio da Primavera) e no Hinduísmo, lá para os fins de Janeiro.

Início do ano aqui pelo Ocidente: primeiro mês Janus - Janeiro - Porta do Céu.

A porta do Inferno é para Agosto.

Judaísmo, Islamismo - início do ano lá para o equinócio de Outono.

Nascimento de Cristo: perto do solstício de Inverno.

Então temos:
Os equinócios estão ligados ao início do ano
Só por estas bandas está mais ligado ao solstício de Inverno por causa da Porta do Céu.

(há que começar por cima - o que contraria aqueles que dizem: está você a começar a casa pelo telhado. Artisticamente falando, é exactamente pelo telhado que se começa porque é de cima para baixo - já os caracteres são assim escritos, como os hieróglifos egípcios quando estão escritos na vertical, são escritos do mesmo modo, de maneira que quando me dizem "está a começar pelo telhado" considero isso um cumprimento, no duplo sentido).

Assim temos uma morte de Cristo na Páscoa para depois nascer de novo. Mentira, nunca morreu porque a morte não existe. Perceberão agora a metáfora do Carnaval, da máscara roxa?

Assim o que há é ascensão ou salto para outro plano. Fertilidade mas de uma outra ordem: a associação do coelho com o ovo indica uma dupla fertilidade, logo, segundo nascimento, logo a passagem para outro plano.

Temos então outro solstício, de Verão, assim mais joanino (ainda outro salto): saltar as fogueiras do Inferno. Já no regresso, para quem o faz, então já se saltam as fogueiras do Inferno (lembrar que Agosto, em pleno Verão, se abrem as portas do Inferno).

No equinócio de Outono, para alguns calendários dá-se o início do ano. Então porquê? Porque a terra vai entrar em recolhimento depois das sementeiras. Em primeiro lugar lançam-se as sementes (uma fertilidade anunciada), depois o recolhimento, ou, adormecimento da terra (a não manifestação, na linguagem de Guénon, a que temos direito.. ), aquilo que está antes do visível surgir, antes da Primavera.

Assim as temos as sementes (quando começa o ano para alguns calendários).
O recolhimento da semente - a "morte"  da semente, a potência da semente. As portas do céu e o início do ano perto do solstício de Inverno. 

Depois temos as flores na Primavera - lá no Paraíso havia muitas - e o nascimento, o Segundo para nós aqui do Ocidente que é o Primeiro para o Budismo. Paraíso a partir do qual se pode ascender.

O regresso, enfim, por portas do Inferno que já podem ser atravessadas, como as fogueiras já podem ser ultrapassadas porque nesse plano "o que é dentro é igual ao que está fora". Como os frutos são apelativos por fora e saborosos por dentro, ou seja, já não é necessária a instituição do rito porque o Gesto natural é já rito - daí que o menino pintado por Margarida Cepêda e que evoca o Quinto Império tenha mãos de Fogo. Sob esse signo, que é o do Espírito Santo, está inscrita a próxima Idade, que será D'Oiro.

No fundo, no ciclo, o ano pode comecar pelo equinócio de Outono, pelo solstício de Inverno, pelo equinócio da Primavera e quando falamos do solstício de Verão então falamos das ligações entre o céu e o Inferno e das proximidades entre ambos ... De maneira que, dito isto, fico a aguardar a Idade do Ouro porque já me fartei desta.
Cumprimentos...

quinta-feira, 18 de abril de 2019

Boa Páscoa


O Anjinho




Andaste vestido de anjinho em criança nas procissões e ainda não paraste de andar nessa figura. Querias que o mundo fosse um violento teatro de orações. Chegado a determinado ponto a vida já não é, nem tem nada de teatral. A realidade domina-nos e as verdades "ainda que opostas" são uma e mesma  verdade como disse o poeta Fernando Pessoa (À Procura da Verdade Oculta - recolha e selecção de António Quadros, Ed. Europa-América). Creio ou quero crer que te diriges às massas como se representasses o papel do "Grande Conversor". Se alguém me converter é porque não me converteu, como costumo dizer. Daí o ridículo das "influencias", das "lavagens ao cérebro" e desses anjinhos inconscientes que se passeiam nas procissões. Fechas os olhos à verdade do real e dos reais sábios. O mundo já foi uma procissão, um desfile de anjinhos inconscientes e viu-se o resultado, como se isso nos pudesse atirar para fora dos ciclos, esses sim determinados, apenas atenuados pelos "saltos" a que poderás chamar de "conversões" mas que são sempre impossíveis quando partem do exterior ou do exterior como estímulo. A idiotia está em pensar que basta ter um símbolo à frente para que este sirva de "suporte" para conversões ou algo semelhante. Estamos rodeados de símbolos desde que existimos e nunca isso foi motor de nada porque o motor, único, verdadeiro e eficaz é o interno. Se nós não contivermos em nós o sentido de todos os símbolos, se nós não os soubermos de cor porque os sabemos já de tal modo os podemos ir desdobrando em palavras, numa imensidão poética, numa co-criatividade divina, num alcance da morte deles (dos símbolos) e na sua plenitude em seguida como Revelação, não seremos mais do que fantoches aparvalhados utilizados nas Guerras Santas que de Santidades nada têm. Se queres a Guerra Santa, eu dar-te-ei o absurdo das guerras, a especulação das matérias primas delas. Se queres mártires, dar-te-ei uma série de Santos que se encontram no limbo tomando-o como Paraíso porque não entenderam nada, nem sabem o básico que é desenrolar os símbolos na imensidão da poesia, até perder de vista, até que eles morram e possam ressurgir em Revelação. Com factos, alimentas o teatro e a ignorância, com poesia, alimentas a verdade e a sapiência. Sempre que vejo um Conversor vejo um Inversor. Tudo o que vem de fora é de fora. Todo o teatro é uma refracção muito triste da realidade. Um anjo tem muito que se lhe diga. Os anjinhos são aqueles que se passeiam em fato branco pelas procissões. Um Anjo, verdadeiro, é outra coisa. Muito poucos criam o seu. Muito poucos, falam de facto com o seu. Muito poucos conhecem o seu e são aqueles que nunca foram convertidos pelas "sugestões" do meio. Os que nunca quiseram nada. Poucos, ainda mais, aqueles que nasceram com o anjo embutido no Gesto e conhecem a Verdadeira Vontade. A conversão é para os adormecidos que são carne para canhão. Os outros sabem onde fica o Paraíso. São poéticos, criativos e onde escrevem "Paz" os adormecidos ouvem "Guerra". Estás a ver o erro de andares com asinhas lindas. O erro foi não teres crescido e teres pensado que a escrita é produto de uma urgência. A escrita é uma mistura de tédio do mundo com um impulso que nos transcende. Só os feios adormecidos nela são capazes ler a Guerra! Santa ainda por cima! Quando um médico cura o que é que faz? Converte? Retira os demónios? Faz Guerra? Não! Cria. Mistura pozinhos, mistura palavras, mistura orações. O que pensas de orações misturadas? Tu que só sabes o Pai Nosso e o Avé Maria num tédio sem fim... Que enjoativo!
Continua nesse teatrinho em que as criancinhas vestidas de anjinhos chegam perto de ti como se fosses o Cristo Rei. Deve ser por isso que as criancinhas de hoje não lêem nada, nem querem saber de nada, não é? Talvez pressintam que possam vir a ser carne para canhão e como não podem fugir para cima fogem para baixo que é sempre a descer e todos os Santos ajudam. Mas preferes assim. Tu e todos os "líderes" actuais. Não há nada como ter uma horda de ignorantes ao serviço no exército do qual te julgas líder e que hão-de servir os interesses dos fabricantes de armas e afins das "reconstruções" das cidades dizimadas. Tu e o teu inimigo são iguais na idiotia. Aliás, viu-se. Vi muita coisa. Foi a criação que me retirou do limbo onde fiquei por uns dias. Uns dias. Julgas que foram anos? Uns dias e vi logo. Lembras-te? "Que grande sarilho em que estamos metidos!". Não acreditaste e ficaste lá. De molho. E sempre a piorar a situação, a passar, já adulto, vestidinho com asas, na procissão. Se não fosse o meu anjo de asas maiores do que as minhas, com voz de trovão e o coração em chamas ainda lá estava. Livrei-me de boa! E não digo "livrou-me" porque há momentos em que não sei onde acabo e onde começa ele. É essa a diferença. O teatro não tem lugar onde a verdade nos trespassa.

sábado, 13 de abril de 2019

Regresso




Esquece, meu amor
As estradas turvas
Os verões cinzentos
As partituras de lamentos
Ouve a água fresca
Na fonte de pedra
Sê o corpo quente
Só por esta Primavera
Os gansos passam
Cantando os ritos
E repetem apelidos
Dos teus mais antigos
Deixados no largo da vida
Cada nome, cada intuição
Cada olhar e cada amor
Regressam por dentro
Voltam ao ser e com nova cor

(Cynthia Guimarães Taveira)

quinta-feira, 11 de abril de 2019

Cá por casa, tudo doido


Todas as quartas-feiras vejo o Programa "Cá por casa" de Herman José na RTP. É um momento de descontracção, desde o Nelinho aos convidados e às rábulas, é verdadeiramente um gosto ver esse programa. Ontem o Nelinho estava muito indignado com as "castas", com o "rei" e com a "frequência" tradicional em geral. E o Herman convidou a Ministra da Cultura que "assumiu" há uns tempos, a sua "orientação" sexual, como se isso fosse importante para o cargo… se calhar é. Coitada da Ministra que quando falou em "evolução", (referia-se às "mentalidades"), disse que, por vezes, a "evolução" andava para trás e procurava, com algum empenho, um termo melhor . Ora bem, ou queria dizer "involução" e era uma chatice para a linguagem diplomática, ou queria dizer "regressão", o que era outra chatice ou queria, simplesmente dizer, "desenvolvimento", termo que não lhe ocorreu. Para Ministra da Cultura, esperava-se mais vocabulário.
Como Antropóloga, acho piada às questões que pulsavam ontem no programa de televisão. A ideia de "casta", uma ideia repugnante para o Nelinho estava presente na casta dos Gays e lésbicas - acho o nome "lésbica" detestável, faz lembrar uma lesma doente, mas elas é que sabem como gostam de ser tratadas, gay é mais giro porque faz lembrar alegria em português.
Já há muitas centenas de anos que as castas, na Índia nada têm a ver com a qualidade das pessoas. Com esta queda acentuada no disparate total, há, naturalmente, uma discrepância entre o céu e a terra, que é como quem diz, entre interior e o exterior. Por isso essa ideia é verdadeiramente repugnante e não equivale a nada nos dias de hoje. Dou toda a razão ao Nelinho. Em compensação temos novas castas que são baseadas em apenas duas coisas: a casta da "orientação" sexual que deve equivaler à casta sacerdotal  e a casta do poder monetário  que deve equivaler à casta dos guerreiros, ou então é ao contrário, não sei. O poder de compra e essa coisa muito interessante chamada "órgãos  genitais" e o uso que se faz deles, são as castas a que temos direito. Bem, podemos sempre "mudar de casta", enriquecendo ou mudando a "orientação" sexual, ou até as duas coisas, e passar a pertencer assim às castas superiores, evoluídas e empenhadas na revolução sexual e monetária. Quem sabe até ser um "rei" se tivermos o nosso programa de televisão e ser o seu centro. Não há nada como o humor. Sinceramente, estou-me nas tintas para a "orientação" sexual de cada um, e se é rico ou pobre, isso também nada tem a ver com o valor, a qualidade das pessoas. A razão das hierarquias prende-se com a qualidade dos seres humanos. A razão do "rei", prende-se com a necessidade de existir um "centro". Quando cabeças não simbólicas se põem a analisar símbolos, o resultado é a gargalhada total. Por isso ontem à noite ainda me ri mais do que o que costumo rir. É um pouco como dizer que a Ana Salazar é da família do Salazar.

quarta-feira, 10 de abril de 2019

Flor

                                                           
 Desenho de Cynthia Guimarães Taveira


Nao há flor que não seja uma sugestão geométrica. A diferença está na cristalização. O cristal é quase inerte. Parado. Os que leram a correr René Guénon ficam muito contentes com o cubo final. A verdade é uma geometria de linhas rectas a alcançar. Era bom e fácil se fosse isso. Mas não é. Passo a citar do livro do autor "O Reino da quantidade e os sinais dos tempos", ed. D. Quixote, pág. 136 (capítulo "Da esfera ao cubo"):

" Resulta ainda de tudo isto que a «solidificação» do mundo se apresenta de certo modo, com um duplo sentido: considerada em si mesma, no decorrer do ciclo, como a consequência de um movimento descendente para a quantidade e «materialidade», tem evidentemente um significado «desfavorável» e até « sinistro», oposto à espiritualidade; mas, por outro lado, é necessária para preparar, embora de uma maneira que poderíamos dizer «negativa», a fixação última dos resultados do ciclo sob a forma de «Jerusalém celeste», onde estes resultados se tornarão em breve os germes das possibilidades do ciclo futuro. Mas é claro que nesta mesma fixação última, e para que ela seja verdadeiramente uma restauração do «estado primordial», é preciso a intervenção imediata de um princípio transcendente, sem o qual nada poderia ser salvo e o «cosmos» desapareceria pura e simplesmente no «caos»; é esta intervenção que produz a «inversão» final, já prefigurada pela «transmutação» do mineral na «Jerusalém celeste», levando em seguida ao reaparecimento do «Paraíso terrestre» no mundo visível, onde haverá a partir de então «novos céus e uma nova terra», visto que será o início de um outro Manvantara e a existência de uma outra humanidade."


Ou seja, a "inversão" final conduz ao aparecimento do Paraíso Terrestre . A Jerusalém Celeste, pela transmutação operada nos metais é uma pré-figuração da possibilidade de uma intervenção transcendente que conduz ao aparecimento do Paraíso Terrestre, ao estado primordial do Homem que estava, efectivamente, num jardim. E daí, como aponta na mesma página em rodapé, a fórmula pitagórica 1+2+3+4=10, sendo o 10, circular (linha curva) - o círculo corresponde à forma perfeita, ao céu e assim, o ciclo maior dentro do grande e ainda maior ciclo que incorpora as 4 etapas, ou seja, o número 4, pela duração maior no tempo que representa e representando também a Idade do Ouro, não corresponde ao cubo, corresponde ao jardim circular com os quatro rios do paraíso, a quadratura do círculo o que é muito diferente do cubo. É caso para dizer que o "deserto - a areia - o mineral", como dizem em terras brasileiras "há-de virar sertão". Mas só com intervenção transcendente.

Outra coisa, não menos importante, o mesmo autor pontua a sua obra com a observação de que não há sistema. Não há sistema e não há sistema. Ou seja, a Iniciação é assistemática. Ela coaduna-se a cada ser humano. Está de acordo com cada ser humano. Especificamente com cada ser humano e sem sistema. Aquilo que há são graus, simplesmente graus, a forma de os "subir" não tem sistema algum. São as permanências nos sucessivos graus que são efectivas e determinadas. O que é muito diferente de "existir um sistema que leve todas as pessoas a ascender ou alcançar o Estado Primordial (1ª etapa, ou Pequenos Mistérios).



Os idiotas


Basta que suspire um pouco, como se tivesse ar em demasia, e as palavras surgem. Nem chego a concentrar-me porque nada é pensado. As palavras surgem inteiras. Quando quero fazer um poema, faço. A maior parte das vezes não quero saber dos poemas que posso fazer. Faço-os por obrigação.
Houve um amigo que escreveu um romance.
"Não sei quantas pessoas deixaram de me falar depois de publicar o romance".
O romance não tinha palavrões, nem tinha personagens contemporâneas, nada.
Os intelectuais sabem ser uns bons idiotas. O que prova que não são intelectuais.
"Sinto-me cada vez mais isolado".
Todos nós que escrevemos coisas vamos para o isolamento, para a solitária. E, se a escrita for compulsiva e nos guiar em direcção à contradição ainda mais.
Podemos pensar, não se pode escrever o que se pensa. Toda a exteriorização, toda a expressão tem que ter um fim prático. Idiotas.
Também já me disseram para fazer desenhos pequenos para vender, lá está, o fim prático das coisas. O meu pai, que era artista do princípio ao fim, chegou a trocar desenhos por almoços oferecidos por amigos. Idiotas. Os intelectuais portugueses são uns vaidosos e não percebem nada de pensamento e muito menos de arte. Quando chegou a Londres e mostrou os desenhos na segunda melhor escola de Arte da cidade, admitiram-no logo. Puseram tudo à sua disposição. Deram-lhe um atelier com tudo. Podia fazer cinema. E fez, de animação, cerâmica, e fez, e pintura a sério sem almoços caros demais. De repente, entre os amigos intelectuais, ficou com "prestígio". Ricos intelectuais me saíram...
Depois, pelas costas, dizem que a pintora Paula Rego é chalupa. Mas vende. Ricos intelectuais. A intelectualidade portuguesa não é constituída por capelinhas. Eles vivem todos no submundo,  em túneis, cegaram porque já não vêem a luz. São minhocas que colecionam livros e sobem para superfície quando há televisão, lançamentos, presenças prestigiantes. Depois regressam aos túneis e encontram-se nas evocações que fazem uns dos outros.
É uma classe que não é intelectual mas que é conhecida por ser intelectual. São soturnos. Não são saturnos porque lhes falta o lado da nobreza do ouro.
"Escrevi um romance e deixaram de me falar depois disso". Ridículos.
Deixa lá, eu escrevi um livro "para crianças e não só" e uns marmanjos  misóginos resolveram psicanalisar-me através do livro para além de me tratarem mal. Estão todos hiper-sensíveis agora. Mas isso já vem de trás. Do tempo em que ser intelectual era uma forma de resistência ao fascismo, porque não havia outra. Nessa altura eram hiper-sensíveis ao estrangeiro. O estrangeiro é que era bom. Agora estão hiper-sensíveis à beleza, à verdade, à criação sem hiper-sensibilidade ao estrangeiro. Hiper sensíveis se lhe tocam na esquerda de estimação ou na direita católica apostólica romana. Alteram-se todos. Começam a espumar da boca e ficam esverdeados. Continuam idiotas mas de uma outra forma. Mudaram só o foco. Abstémios da sinceridade.

É o passado que impōe respeito e admiração



Quando entrámos na CEE e entraram no país aqueles fundos monetários da Europa, tivemos a nítida sensação de que era a primeira vez que nos sentíamos folgados economicamente desde a revolução. Como um esfomeado que quando tem comida, come demais e  demasiado depressa o que resulta numa indigestão. Foi isso que se passou. Muitos fundos mal aplicados e falta de Norte, tanto da parte de Portugal como da parte da Comunidade Europeia que serviu sobretudo os interesses dos países do centro, a França, a Alemanha.
Agora, numa conjunção favorável que é produto da habilidade do Centeno (e cuidado com as habilidades que podem ser só isso, habilidades), e uma certa dinâmica económica que provém do turismo e da "imagem" projectada no exterior, a par com uma relativa estagnação das políticas muito económicas e muito pouco sociais e culturais da Europa, estamos neste momento, com um resultado parecido: há uma certa folga económica que permite a alguns (não tantos como isso porque ainda há quem passe mal e a emigração em "tenras" idades permanece) respirarem. O problema fundamental e de base permanece: a existência de um projecto para o país. Ora um projecto para um país para ser sustentável e em simultâneo duradouro deve ter sempre uma base cultural. Se for apenas uma base económica, ao mínimo vendaval externo, sejam os movimentos das bolsas e dos mercados, seja uma qualquer guerra, o país cai de novo a pique. A cultura não é coisa que se "importe" de um dia para o outro. Ela é produto da História e da continuidade dela. Assim, seria bom que os nossos governantes, muito pouco habituados a ler estes temas de cultura portuguesa e ainda com aquele costume irritante (isso sim, é o "irritante"...) de ouvirem quem sabe mais e de dizerem com a cabeça autenticamente nas nuvens a tal palavra que não quer dizer nada, o velho termo "interessante", passassem a dar de facto peso e dimensão à cultura portuguesa naquilo que ela tem de Antigo muito mais do que naquilo que tem de "moderno" e que é uma mera importação recente e altamente deformada. Se o Berardo quiser vender toda a "colecção" de monstruosidades, é deixá-lo vender porque francamente aquilo não vale nada a não ser o que vale no "mercado" e talvez abata uma parte da dívida à Caixa (o banco que paga as reformas, algumas de pouco menos de quatrocentos euros). Assim, o projecto de um país reside no seu passado. Não vale a pena andar às voltas e querer muito a "inovação" e a "competição", porque não está aí a base cultural. A base cultural está na Tradição e na Amizade, dois termos opostos a esses "inovadores" e "competitivos" que são sinónimos da selvageria empresarial. A "inovação", aparece depois de muitas horas de tradição, e nasce espontaneamente de parto não provocado. A competição, não chega a aparecer, o que há é um reconhecimento da qualidade da nossa cultura, da nossa forma de pensar, de estar e de ser. Isso é completamente diferente da competição porque esse reconhecimento é espontâneo. Se um político lesse isto se calhar diria "que interessante" e isso seria mais uma vez a prova de que não tinha percebido nada do que leu. Não é "interessante" como uma coisa que fica adiada para mais tarde se pensar nela. É, de facto importante que não se caia no mesmo erro em que se caiu aquando a vinda dos primeiros fundos comunitários, com o preço de voltar a ficar tudo na mesma. O investimento na educação de qualidade e não de quantidade de aulas e matérias que só cansam e sobrecarregam os alunos e não os formam de maneira nenhuma na sua estrutura que deveria estar ligada ao país a que nasceram é uma forma de defesa e, em simultâneo, de poder ser a base de um projecto para o país. Enquanto os portugueses pensarem que são filhos do futebol, lacaios parasitas de turistas e primos da economia, tudo isso, mais dia menos dia, cai pela base porque a base não é sólida. A solidez vem do passado. Os alicerces estão lá e são indiscutíveis, inalteráveis e extremamente ricos, quer em Amizades quer em Tradições. É para aí que se deveriam voltar os nossos olhos e não para modelos de pensamento que nos são absolutamente estranhos e que perante os quais somos, no mínimo, desajeitados.

segunda-feira, 8 de abril de 2019

O contexto de vidro



Na obra "Não lugares: Introdução a uma antropologia da supermodernidade" de Marc Augé, esses "não-lugares" são definidos assim:
"O não lugar é diametralmente oposto ao lar, à residência, ao espaço personalizado. É representado pelos espaços públicos de rápida circulação, como aeroportos, rodoviárias, estações de metro, e pelos meios de transporte – mas também pelas grandes cadeias de hotéis e supermercados."
Já tem quase três décadas, este livrinho, e na altura, já elevava Marc Augé, esses espaços públicos, a uma época que apelidou de "supermodernidade".
Esses espaços tornaram-se o contexto. É o nosso contexto e malfadado contexto. Ontem vi  Paulo Portas fazer o elogio assolapado a um edifício novo construído em Nova Iorque que vai ser um Centro de Artes ou coisa que o valha. Compreendo, ( porque também aprecio), que Paulo Portas aprecie cinema americano (no entanto cada vez gosto mais do francês e até do espanhol que renasceu sem efeitos especiais) mas ele confunde as coisas. Não foram os americanos, nem são, aqueles que nos ensinaram o que é a liberdade. Já sabíamos o que era isso muito antes de a América ser o que é. Por outro lado, o edifício não é mais do que um aglomerado de vidro pós-pós-pós moderno, sem eira nem beira como são a maior parte dos edifícios com estes "pós" - que com tanto pó ainda ficam em pó. Estes "centros de arte", tendem a ser locais de passagem, uma espécie de "ocorrência" parecida com a da Disneylândia, só que em vez de cabeçorras de animais antropomorfizados temos "a cultura"  exibicionista e não exibida, aberta a todos - Paulo Portas fez questão de assinalar que havia lugar para os mais "desfavorecidos" poderem frequentar o tal espaço (na América os mais favorecidos são profundamente ignorantes e os mais desfavorecidos estão demasiado ocupados a tentar deixar de o ser para se importarem com "cultura"). Em suma, um centro de artes, feito de vidro, gelado, com linhas rectas assimétricas (a assemitria é previlégio das linhas curvas e para o ser das rectas é necessária muita arte e perceber muito das curvas) feito pela "imaginação" de um ou mais arquitectos, sem a mínima formação relativamente ao espaço qualitativo. E é o mesmo Paulo Portas, que considero inteligente, que nos vem informar, no mesmo espaço semanal de comentário, que os Japoneses estiveram um ano à procura de um lema, tendo sido esse lema escolhido sob a forma de palavras que remetiam para a Harmonia... justificando o comentador imediatamente que esse "apelo" à harmonia se deve ao crescente poderio chinês. Poderia ter aproveitado, o comentador, para falar no "todo" que a harmonia pode constituir segundo o ponto de vista oriental e não apenas da parte política. É que há coisas que se não forem explicadas, ninguém entende nada e pode-se apenas pensar numa espécie de "tréguas", apenas económicas, porque a economia é a verdadeira guerra hoje e a única política.
Um edifício que é mais uma aberração para as pessoas passarem o tempo e que justificaria palavras mais profundas, cai na velha fórmula de "quando mais ligeiro o comentário", mais depressa se vai para casa. Assunto resolvido.  A cultura tende a ser um passatempo porque somos todos crianças e temos que nos entreter com qualquer coisa. Lembro-me de passar por certas ruínas, em várias partes do mundo e de perceber que, mesmo sendo ruínas, a força do lugar, a memória, e a transmissão de conhecimento ainda eram passíveis de serem apreendidas. Dirão que era mera sugestão e que nestes edifícios novos que albergam  uma panóplia de elementos de cultura, o mesmo se passa. Não penso assim. Ou melhor, não sinto assim. O perfil de uma personalidade, de um estilo, de um rosto, é a marca dos conhecimentos da própria época, da sua sensibilidade, do seu maior ou menor requinte, da sua aproximação a uma espécie de glória (e o que é a glória, hoje? O Ronaldo?). Estes novos não lugares, já não estão só nos locais de passagem, estão por todo o contexto. Até dentro das casas que cada vez menos são lares por onde a televisão, igual para todos, entra com as casas das Cristinas artificiais ou mesmo as casas próprias dos Gouchas que hão-de servir de modelo a outras tantas. As ideias, liberais em extremo e os socialismos vários, são o contexto. São a marca da despersonalização. Incapazes de criar, aglomeram a cultura em armazéns de vidro e pó. Tão frágeis e falsos. Os socialismos inscrevem-se nos direitos fundamentais para todos para, a partir daí, exigirem  "deveres" que são, igualmente, iguais para todos. O não lugar como contexto tende a ser o próprio indivíduo, onde não se encontra coisa nenhuma que não seja um mimetismo e uma adopção do contexto. Diz-se, e com razão, que para o estudo dos símbolos, é necessário situá-los no contexto, como se, os símbolos em si próprios, possuíssem algo neles que está sempre para além do contexto mas que podem, por isso mesmo, ser utilizados, dentro de diversos contextos. Ora se a noção do símbolo se perde, resta às pessoas serem o último . O contexto actual é a grande ditadura que isola os homens levando-se a cumprir os mínimos necessários para que haja economia (governo da casa) para alguns e poucas economias para outros. "O homem e o seu contexto", passou a ser "o homem é o contexto", e ainda que esta última frase possa ser verdadeira em determinado estado espiritual, onde o dentro e o fora se fundem, neste caso, o cubismo aplicado aos edifícios é o cubismo interno dos homens. A besta é de facto, quadrada e com paredes de vidro.

domingo, 7 de abril de 2019

As revoluções


A lei (inventada e provinda de uma fábrica de esquerda e de direita) da misoginia impele os cegos a verem uma esfrogona na mão como se fosse o símbolo de uma revolução das classes trabalhadoras ou o símbolo do conservadorismo efectivo e estável. Um elemento simples de justiça nunca foi o substracto das revoluções. O substracto das revoluções sempre foi a tentativa de inverter uma determinada ordem. A justiça nada tem a ver com isso porque pertence a outro plano. Assim, a justiça é sempre interna e basicamente invisível com repercusões que estão para além dos esforços humanos. O aproveitamento dos submissos e submetidos nas supostas revoluções implica, naturalmente, que nenhuma revolução se dê, de facto. Desde a Revolução Francesa que a Europa e o mundo legitimaram as Revoluções como forma de apoio ao avanço tecnológico e nada mais. Todas elas se situam nos pólos opostos que sustentam os recursos humanos e os grandes empreendimentos. Desses dois pobres e tristes polos, não saem as revoluções, porque nasceram deles e a eles hão-de estar sempre submetidas. O verdadeiro re-ajustamento do mundo passa por uma elite verdadeiramente espiritual e, como tal, absolutamente invisível e indectável.

sábado, 6 de abril de 2019

Portugal e o Batido de Justiça



Teria sido mais fácil se tivesse nascido com aquela memória prodigiosa para citações, ou aquela forma de falar académica na qual as longas palavras fazem também um longo e afunilado remoinho em direcção ao abismo mas que dão lugar na elite dos dezoitos universitários. Mas não. Tive de lidar com um misticismo precoce que me deu cabo da cabeça demasiado racional até ler o Xamanismo do Mircea Eliade e perceber que louco, andava o mundo actual. Teria sido mais fácil se tivesse sido mística e tivesse permanecido como Lídia (de Fernando Pessoa) e  me deixasse ter ficado sentada à beira rio esperando que ele corresse além dos deuses. Mas não. Em vez disso, a minha vida foi-se tornando símbolos que ganharam vida, ao ponto de já nem querer saber dos fantasmas dos outros que são evidentemente estúpidos demais para saberem o que é um símbolo. Os fantasmas não sabem o que é um símbolo. Estranhamente só querem saber de corpos para incorporar ou para aterrorizar, ou para se distraírem do facto de serem fantasmas. Em vez disso a nitidez das imagens que me devolveu uma dioptria em cada olho fez-me ver as pessoas, os seus fantasmas e ainda mais longe disso tudo, onde o mais alto e o mais baixo se tocam. E foi assim que fiquei sem paciência e com toda a paciência do mundo em simultâneo. E olho para uma esfregona e digo que não tem nada de especial e, ao mesmo tempo, no mesmo instante e momento reclamo para as donas de casa um ordenado superior ao do Presidente da República, porque sei que sem as donas de casa o país caia a pique e que com a justiça coxa que temos, ainda assim, o país lá vai andando. E por absurdo que pareça esta é a realidade das realidades, que uma mulher com uma esfregona que não vale nada, vale mais do que cem juízes e que a justiça, a verdadeira, é semi-cerrada aos olhos do vulgo. E deixei de lado as ideologias, que nunca as tive, porque ser monárquica não é aderir a uma ideia, é um facto, e deixei de me preocupar com pomposos intelectuais cujo carácter sempre foi inferior à quantidade de livros que leram e me entreguei ao estudo vivo que é aquele que se está nas tintas para a "partilha", para o "bem comum", para o entretenimento de alguns e para o desvio do estudo de outros que se encostam suavemente e com doçura numa perguiça enlameada a quem tem o fogo do estudo bem aceso, e também foi assim que nunca mais peguei numa esfregona como um castigo mas sim como uma glória. Por isso, teria sido mais fácil se me tivesse deixado ir no academismo graduado, nas filas de espera para o sucesso, no misticismo deslumbrante que me levaria a vestir de branco com um véu segurado por uma data de anjos aparvalhados e embevecidos. Teria sido mais fácil. Mas tenho, de facto, mau feitio. E sou portuguesa, país batido na justiça, batido pela justiça e onde a justiça é um batido de injustiça onde não se espera e de justiça onde não se espera. E a vida devolve-me tudo em símbolos, sempre, porque já os atravessei.

sexta-feira, 5 de abril de 2019

A insatisfação


Fico muito grata quando me dão ouvidos mas ainda assim sofro de insatisfação. Há uma palavra que me persegue (se fosse só uma...) e que me inquieta. Há anos que tenho tido uma paciência de Jó. Imaginem uma palavra velada. Bem, é mais do que uma palavra, é mesmo um símbolo, e que retira véus devagar. Chega a levar um ano até retirar mais um. É como se com esse símbolo me aproximasse de qualquer coisa. Nem digo qual é porque é inútil. Não há uma vida igual à outra e outras vidas terão outros símbolos que as intrigam com mais intensidade. Deixa-me, este símbolo com uma mistura de inquietação, de surpresa, de espanto, de curiosidade. A maior parte do tempo nem penso nele. É só quando surge com menos um véu que me lembro de novo. Como se eu fosse um cavalo com a cenoura à frente e não resisto em quase dar mais um passo. Digo "quase" porque me dá a sensação, devido à lentidão com que se desnuda, de que não avancei nada no mistério. Ao mesmo tempo esse símbolo parece daquelas coisas que vemos de passagem a passar rapidamente por entre cortinas. O mistério é isso mesmo, qualquer coisa que vemos de passagem a passar rapidamente por entre cortinas. E mais um véu caiu agora enquanto escrevo. Entre outras coisas, esse símbolo, com o modo com que se faz apresentar na minha vida, simboliza o Mistério. A escrita tem, por vezes, o dom de nos guiar, quando deixamos, mesmo que a insatisfação persista e que nem nos lembremos dessa insatisfação. De maneira que, embora esteja muito grata por me darem ouvidos, continua a barca no céu, em busca dos símbolos perdidos. Talvez fosse isso, no fundo, o que a alma inquieta de Proust buscava. Os símbolos perdidos na esfera para além do tempo, porque o tempo, em si, passa e não volta, mas os símbolos, para além dele, sim. E isso sossega-me.

quinta-feira, 4 de abril de 2019

A livraria


Hoje vi este filme requintado. É muito actual. No fundo, fala de um fahrenheit 451. Há uns dias, uns padres polacos resolveram fazer uma fogueira com alguns livros dos quais não gostavam e, como não gostavam, ninguém poderia gostar  Evidentemente que já vimos o mesmo gesto feito pela Inquisição ou pelos Nazis, e que, aparentemente, esses padres polacos, não viram.
Não é só em Portugal que as livrarias estão a fechar, é um pouco por toda a parte. Por este andar não é necessário queimar livros, eles pura e simplesmente desaparecem como objectos e tornam-se e-books, quando se tornam, ou são substituídos por Wikipédias. Haverão meia dúzia de gatos pingados com um livro debaixo do braço e o restante andará de telemóvel.
O espaço de uma livraria (falo de livrarias e não de Fnac's que são hipermercados mal disfarçados) é insubstituível. O cheiro, o pó, os pensamentos, os livros, as pessoas, a luz, a disposição, o silêncio, as palavras, os recantos, as sombras, as surpresas, os encontros, as trocas, os instantes, as memórias, a respiração, o tempo, todas estas palavras juntas são uma livraria. De maneira que, quando fecha uma livraria, fecha tudo isto. E fecha-se um mundo e talvez também uma perspectiva de mundo. Um mundo que não é tão a preto e branco. E o modo como este filme fala disso é doloroso e encantador. O espaço é muito mais importante do que se pensa. Porquê? O melhor é irem à procura de livros que falem disso. E de outras coisas. Se quiserem mesmo saber.

Cynthia, a bruxa.


O meu bruxedo preferido:



A subversão ou o facto de se tresler as citações conscientemente resulta numa espécie de erro ao qual o aspecto mais interno da questão é imune porque onde não há erro não há alteração e onde há erro, há correcção. Toda a correcção é dolorosa porque implica um deslocamento, um movimento em direção oposta ao autêntico vento inicial – e tomamos aqui a palavra Vento no sentido simbólico do termo, o que obriga a um desvio. Assim, esse movimento fica sempre nesse alguém que subverteu ou tresleu e, mais tarde ou mais cedo, dá-se a reposição, o re-posicionamento que é sempre doloroso. Aliás, a dor é sempre produto da tentativa de correcção de alguma coisa.

Alvalade chama por mim



Humor


Bem sei que René Guénon era Francês, Egípcio e, no fundo, Híndu, e que, por isso, pairava acima das nações mas esta tirada sua é de um humor inglês refinado:

"... os filósofos dizem muitas vezes coisas muito mais justas quando argumentam contra outros filósofos do que quando vêm expor os seus próprios pontos de vista, e como cada um vê bem os defeitos dos outros, vão-se destruíndo mutuamente."

Rene Guénon "O Reino da Quantidade e os sinais dos tempos", Ed. D. Quixote, 1989, pág. 90

Estou sempre a mudar o título às minhas pinturas


(Na foto cantiga de Pero Meogo)



Em cada sonho
Ato a fita D'Oiro
Em verdade
Vos digo
Nada neles não é
Senão teu rosto
Vivo e firme
E nada nele não é
Senão um sol
Que me ilumine
E nada nesse sol
Não é senão
A luz e o seu timbre
Em verdade vos digo
Que cada noite
É via e trilho
Com fitas D'Oiro
A cavalo sigo
Da caverna ao mundo
E daí prossigo
Ao rio que nasce
Donde é a fonte
E o firmamento
Azul dourado
Tão quente e frio
Com fitas D'Oiro
Faço o caminho
Com bermas de flores
E um manto d'arminho
A trote a dois vou
onde já fui
A compasso só
Onde não estive
São fitas D'Oiro
Depois das águas
Sobem e descem
Pelos cabelos-raios
Lados do teu rosto
No sonho perto
Na verdade em mim
Não pergunto
Com palavras d'oiro
Onde estás
Se agora, se aqui
Eras tu o outro
No cavalo a trote
Onde fui, onde te vi
És tu, verdade em mim,
O caminho em flor
Por onde vou
E por ti escolhi

(Cynthia Guimarães Taveira)






   

quarta-feira, 3 de abril de 2019

O que me deram


O que me deram
Os que me acarinharam
Os que me acolheram?
Deram-me flores
E se as flores não fossem pirosas?
E se as flores tivessem o perfume da alma?
E se elas fossem sempre presentes?
O que me deram mais?
Deram-me um jardim
Que só às vezes é Portugal
Porque das outras é só o espinho
Encravado entre o oceano e coisa nenhuma.
Portugal é um jardim, só às vezes
Quando não é um diamante rude e encoberto
Quando não é nuvem que chove
Quando não é animal ferido

Deram-me um jardim
E, às vezes, Portugal merece lá estar
Outras não
Quando o nega
Quando o subestima
Quando o abandona

Mas deram-me um jardim
Para além dele
Que vai comigo
E só às vezes Portugal o encontra
Quando não dorme
Quando tem coragem
Quando me dá flores
E sementes
E mais flores
E mais sementes

Deram-me um jardim
Por onde, às vezes, passa
Quando se lembra que o é
O jardim que é Portugal




terça-feira, 2 de abril de 2019

O Infinito


Desde pequena que nos cadernos da escola desenhava esta figura e ainda tenho alguns com ela. Só há bocadinho é que percebi o que é. É uma figuração do infinito mais correcta do que o símbolo matemático do infinito. É mais correcto porque é uma figura aberta. E ainda é outra coisa mas é tão desconcertante que não digo.