quarta-feira, 10 de abril de 2019

Flor

                                                           
 Desenho de Cynthia Guimarães Taveira


Nao há flor que não seja uma sugestão geométrica. A diferença está na cristalização. O cristal é quase inerte. Parado. Os que leram a correr René Guénon ficam muito contentes com o cubo final. A verdade é uma geometria de linhas rectas a alcançar. Era bom e fácil se fosse isso. Mas não é. Passo a citar do livro do autor "O Reino da quantidade e os sinais dos tempos", ed. D. Quixote, pág. 136 (capítulo "Da esfera ao cubo"):

" Resulta ainda de tudo isto que a «solidificação» do mundo se apresenta de certo modo, com um duplo sentido: considerada em si mesma, no decorrer do ciclo, como a consequência de um movimento descendente para a quantidade e «materialidade», tem evidentemente um significado «desfavorável» e até « sinistro», oposto à espiritualidade; mas, por outro lado, é necessária para preparar, embora de uma maneira que poderíamos dizer «negativa», a fixação última dos resultados do ciclo sob a forma de «Jerusalém celeste», onde estes resultados se tornarão em breve os germes das possibilidades do ciclo futuro. Mas é claro que nesta mesma fixação última, e para que ela seja verdadeiramente uma restauração do «estado primordial», é preciso a intervenção imediata de um princípio transcendente, sem o qual nada poderia ser salvo e o «cosmos» desapareceria pura e simplesmente no «caos»; é esta intervenção que produz a «inversão» final, já prefigurada pela «transmutação» do mineral na «Jerusalém celeste», levando em seguida ao reaparecimento do «Paraíso terrestre» no mundo visível, onde haverá a partir de então «novos céus e uma nova terra», visto que será o início de um outro Manvantara e a existência de uma outra humanidade."


Ou seja, a "inversão" final conduz ao aparecimento do Paraíso Terrestre . A Jerusalém Celeste, pela transmutação operada nos metais é uma pré-figuração da possibilidade de uma intervenção transcendente que conduz ao aparecimento do Paraíso Terrestre, ao estado primordial do Homem que estava, efectivamente, num jardim. E daí, como aponta na mesma página em rodapé, a fórmula pitagórica 1+2+3+4=10, sendo o 10, circular (linha curva) - o círculo corresponde à forma perfeita, ao céu e assim, o ciclo maior dentro do grande e ainda maior ciclo que incorpora as 4 etapas, ou seja, o número 4, pela duração maior no tempo que representa e representando também a Idade do Ouro, não corresponde ao cubo, corresponde ao jardim circular com os quatro rios do paraíso, a quadratura do círculo o que é muito diferente do cubo. É caso para dizer que o "deserto - a areia - o mineral", como dizem em terras brasileiras "há-de virar sertão". Mas só com intervenção transcendente.

Outra coisa, não menos importante, o mesmo autor pontua a sua obra com a observação de que não há sistema. Não há sistema e não há sistema. Ou seja, a Iniciação é assistemática. Ela coaduna-se a cada ser humano. Está de acordo com cada ser humano. Especificamente com cada ser humano e sem sistema. Aquilo que há são graus, simplesmente graus, a forma de os "subir" não tem sistema algum. São as permanências nos sucessivos graus que são efectivas e determinadas. O que é muito diferente de "existir um sistema que leve todas as pessoas a ascender ou alcançar o Estado Primordial (1ª etapa, ou Pequenos Mistérios).



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