Basta que suspire um pouco, como se tivesse ar em demasia, e as palavras surgem. Nem chego a concentrar-me porque nada é pensado. As palavras surgem inteiras. Quando quero fazer um poema, faço. A maior parte das vezes não quero saber dos poemas que posso fazer. Faço-os por obrigação.
Houve um amigo que escreveu um romance.
"Não sei quantas pessoas deixaram de me falar depois de publicar o romance".
O romance não tinha palavrões, nem tinha personagens contemporâneas, nada.
Os intelectuais sabem ser uns bons idiotas. O que prova que não são intelectuais.
"Sinto-me cada vez mais isolado".
Todos nós que escrevemos coisas vamos para o isolamento, para a solitária. E, se a escrita for compulsiva e nos guiar em direcção à contradição ainda mais.
Podemos pensar, não se pode escrever o que se pensa. Toda a exteriorização, toda a expressão tem que ter um fim prático. Idiotas.
Também já me disseram para fazer desenhos pequenos para vender, lá está, o fim prático das coisas. O meu pai, que era artista do princípio ao fim, chegou a trocar desenhos por almoços oferecidos por amigos. Idiotas. Os intelectuais portugueses são uns vaidosos e não percebem nada de pensamento e muito menos de arte. Quando chegou a Londres e mostrou os desenhos na segunda melhor escola de Arte da cidade, admitiram-no logo. Puseram tudo à sua disposição. Deram-lhe um atelier com tudo. Podia fazer cinema. E fez, de animação, cerâmica, e fez, e pintura a sério sem almoços caros demais. De repente, entre os amigos intelectuais, ficou com "prestígio". Ricos intelectuais me saíram...
Depois, pelas costas, dizem que a pintora Paula Rego é chalupa. Mas vende. Ricos intelectuais. A intelectualidade portuguesa não é constituída por capelinhas. Eles vivem todos no submundo, em túneis, cegaram porque já não vêem a luz. São minhocas que colecionam livros e sobem para superfície quando há televisão, lançamentos, presenças prestigiantes. Depois regressam aos túneis e encontram-se nas evocações que fazem uns dos outros.
É uma classe que não é intelectual mas que é conhecida por ser intelectual. São soturnos. Não são saturnos porque lhes falta o lado da nobreza do ouro.
"Escrevi um romance e deixaram de me falar depois disso". Ridículos.
Deixa lá, eu escrevi um livro "para crianças e não só" e uns marmanjos misóginos resolveram psicanalisar-me através do livro para além de me tratarem mal. Estão todos hiper-sensíveis agora. Mas isso já vem de trás. Do tempo em que ser intelectual era uma forma de resistência ao fascismo, porque não havia outra. Nessa altura eram hiper-sensíveis ao estrangeiro. O estrangeiro é que era bom. Agora estão hiper-sensíveis à beleza, à verdade, à criação sem hiper-sensibilidade ao estrangeiro. Hiper sensíveis se lhe tocam na esquerda de estimação ou na direita católica apostólica romana. Alteram-se todos. Começam a espumar da boca e ficam esverdeados. Continuam idiotas mas de uma outra forma. Mudaram só o foco. Abstémios da sinceridade.
"Não sei quantas pessoas deixaram de me falar depois de publicar o romance".
O romance não tinha palavrões, nem tinha personagens contemporâneas, nada.
Os intelectuais sabem ser uns bons idiotas. O que prova que não são intelectuais.
"Sinto-me cada vez mais isolado".
Todos nós que escrevemos coisas vamos para o isolamento, para a solitária. E, se a escrita for compulsiva e nos guiar em direcção à contradição ainda mais.
Podemos pensar, não se pode escrever o que se pensa. Toda a exteriorização, toda a expressão tem que ter um fim prático. Idiotas.
Também já me disseram para fazer desenhos pequenos para vender, lá está, o fim prático das coisas. O meu pai, que era artista do princípio ao fim, chegou a trocar desenhos por almoços oferecidos por amigos. Idiotas. Os intelectuais portugueses são uns vaidosos e não percebem nada de pensamento e muito menos de arte. Quando chegou a Londres e mostrou os desenhos na segunda melhor escola de Arte da cidade, admitiram-no logo. Puseram tudo à sua disposição. Deram-lhe um atelier com tudo. Podia fazer cinema. E fez, de animação, cerâmica, e fez, e pintura a sério sem almoços caros demais. De repente, entre os amigos intelectuais, ficou com "prestígio". Ricos intelectuais me saíram...
Depois, pelas costas, dizem que a pintora Paula Rego é chalupa. Mas vende. Ricos intelectuais. A intelectualidade portuguesa não é constituída por capelinhas. Eles vivem todos no submundo, em túneis, cegaram porque já não vêem a luz. São minhocas que colecionam livros e sobem para superfície quando há televisão, lançamentos, presenças prestigiantes. Depois regressam aos túneis e encontram-se nas evocações que fazem uns dos outros.
É uma classe que não é intelectual mas que é conhecida por ser intelectual. São soturnos. Não são saturnos porque lhes falta o lado da nobreza do ouro.
"Escrevi um romance e deixaram de me falar depois disso". Ridículos.
Deixa lá, eu escrevi um livro "para crianças e não só" e uns marmanjos misóginos resolveram psicanalisar-me através do livro para além de me tratarem mal. Estão todos hiper-sensíveis agora. Mas isso já vem de trás. Do tempo em que ser intelectual era uma forma de resistência ao fascismo, porque não havia outra. Nessa altura eram hiper-sensíveis ao estrangeiro. O estrangeiro é que era bom. Agora estão hiper-sensíveis à beleza, à verdade, à criação sem hiper-sensibilidade ao estrangeiro. Hiper sensíveis se lhe tocam na esquerda de estimação ou na direita católica apostólica romana. Alteram-se todos. Começam a espumar da boca e ficam esverdeados. Continuam idiotas mas de uma outra forma. Mudaram só o foco. Abstémios da sinceridade.
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