segunda-feira, 15 de julho de 2019
A crise de valores
O lado hilariante desta viagem pela cabeça dos "pensadores actuais" está no facto de verem golpes palacianos em folhas de literatura espalhadas aqui e ali. A estrutura mental em que nasceram, cresceram e lá vão andando, mergulha as raízes no lamaçal das ideologias para "democrático" ver. Nenhum deles é anti-democrático e, no entanto, parecem sofrer da síndrome obsessiva compulsiva de verem golpes palacianos em todas as esquinas e vertentes do pensamento que não adira às balelas pegajosas democráticas. Sofrem do complexo de rei-sol e transformam a democracia numa ditadura sua e imposta à força a qualquer pensamento que queira despontar em solo literário. Todos os escritores têm de escrever de duas maneiras: ou falam de flores e borboletas ou têm de ir ao encontro das virtudes da democracia. Se juntarem as duas coisas, melhor. Qualquer inferno que possam vir a (des)escrever só o é se for resultado da queda do paraíso democrático. O único inferno aceitável por esta "vanguarda" é o do desvio dos ideais da Revolução Francesa e tem de ser rapidamente ultrapassado. Nem sei porque se dão ao trabalho de dizer que pensam. Bastava um que pensaria por todos e o serviço ficava feito. Mas a democracia é isso mesmo: um conjunto muito grande de pessoas a dizerem todas a mesma coisa por palavras raramente diferentes umas das outras. Não há dúvida de que a democracia se trata de uma autêntica harmonia universal, da uma sintonia das almas, de uma efervescência de uma sub-espécie de eternidade e dos vapores inebriantes que solta e entontecem tornando tontos quem dela bebe. Ao ponto de já nem reconhecerem a beleza da arte, a força da diferença e a sabedoria que só os sábios possuem. Em democracia não há sábios. Há apenas igualdade de oportunidades, contagem final dos votos e a literatura é um cão amestrado.
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