terça-feira, 30 de julho de 2019
Pré-campanhas
Quando há repetições de acontecimentos ou de situações em poucos dias isso indica que o tema que envolve esses acontecimentos ou situações são uma espécie de sílaba tónica do contemporâneo. Ultimamente tenho reparado que existe, a vários níveis, uma repetição da frase idiomática portuguesa "sacudir a água do capote". Foi de tal maneira repetitivo que atingiu pessoas importantes. Aquilo que são pessoas importantes fica ao critério de cada um, no entanto, pelos meus critérios, isso vai desde as pessoas que dão a imagem de terem poder (não é seguro que o tenham ou deixem de ter), até a outras que para mim têm a máxima importância mas não é seguro que a tenham para mais alguém. De tal forma foi que achei por bem escrever embora saiba que o que escrevo pouco é lido, pelo menos de forma visível já que invisivelmente ninguém pode afirmar com segurança que não é lido. Este comportamento que se traduz como "sacudir a água do capote", ou "passar a batata quente", ou "lavar daí as mãos", vem acompanhado, por vezes, de um intenso desejo de projectar uma imagem de correção em termos comportamentais, de moralidade superior em termos infra-religiosos ou até mesmo de beatude em termos religiosos e que obriga a complementar esse "sacudir a água do capote" com o "agradar a gregos e a troianos". Os períodos de pré-campanha eleitoral são férteis nesta associação de expressões idiomáticas. De qualquer maneira, nas redes sociais e na vida, cada ser individual parece ser obrigado por razões de competitividade que têm a sua base na "evolução das espécies de Darwin" e por razões de sobrevivência tanto no mundo social que o cerca como no mundo individual que muitas vezes é uma criação do indivíduo de uma imagem de um determinado contexto e enredo no qual é a personagem principal, parece ser obrigado, dizia, a estar numa espécie de pré-campanha de si mesmo inserida em "eleições" que só o imaginário onde aquele que se encontra envolvido numa pré-campanha de si mesmo, conhece. O resultado disto é uma injustiça e um desiquilíbrio (o que é a mesma coisa) alimentado por muito tempo num ciclo vicioso que parece não ter fim. No entanto, todos os ciclos viciosos têm fim porque o verdadeiro impulso do universo é a espiral. O movimento espiralado desenvolve-se por sobreposições de ciclos, uns de maior amplitude, outros de menor amplitude. Os ciclos viciosos são uma ilusão. O que verdadeiramente se está a passar é um reposicionamento. Imperceptível mas rigoroso. A Ordem tem dentro de si o Rigor mas não depende dele. Ele é o complemento da Mesericórdia. Entre um e a outra o que existe são ciclos que parecem viciosos. A Ordem apenas Observa a Observância. Sendo assim, na verdade (a verdade para alguns interessa, para outros é coisa secundária e menor o que é indiferente à própria verdade onde quer que ela esteja), se virmos tudo como uma pré-campanha, quer seja partidária quer seja individual, as coisas fazem sentido. É pena que seja assim, muito espectáculo e pouca uva, mas isso não descarta a possibilidade de nos rirmos deste mundo onde abundam os tiques de origem democrática, a esperança democrática, a falta de democracia, a pseudo-democracia, a ilusão de democracia, a democracia-traça à volta da lâmpada a queimar as asas, e mais, muito mais tipos e sugestões de democracia e democráticas. O riso é anárquico. Só pode.
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