terça-feira, 16 de julho de 2019

Maio



Não foi em vão
Que as rosas se abriram
Ou que aconteceu o Verão
Nesse Maio incandescente

Pousada no seixo
No alto da montanha
Viste a toda a volta
As linhas do destino

Sempre sagrada fora
Essa espécie de história
Que pareciam mais
Palavras apenas juntas

A arte fora maravilhosa
Sempre e do céu jorrava
Sempre e das mãos vertida
Sempre e de amor merecida

A oeste havia aquele verde água
Espelho líquido que dizia baixinho:
"Já fui a Sintra nos teus sonhos
E à floresta, e dei-lhe o sal da vida"

Não te surpreendes se passam
E nada sabem e o dizem com o olhar
Afinal és um mistério e um segredo
Unidos num sussurro entre anjos

O que trazes é essa grandeza
Das gentes que conheceste
E incorporaste na tua verdade
No teu saber e no teu estar

A gratidão não baixa a guarda
E ofusca qualquer movimento em falso
E guarda nos momentos de pausa
Do pensamento um sorriso eterno

Olha que flor tão lilás e lisa
A eclodir no meio do teu olhar
Indiferente às tuas penas
Aos teus desgostos e dores

Não conseguem levar para longe
Essa forma de energia na ponta dos dedos
Quando tocas em amores
E os vivificas só por quereres

Passas sempre a voar
Desde que te tornaste ave
E desde que tornaste voo
E desde que ficaste lá suspensa no céu

Quando te vejo não resisto
E escrevo um poema mesmo que durma nele
E invente de novo o que mais ninguém
Ouve em ti

Essa música tão mansa
Que se funde com o silêncio
Incapaz de parar, de reter o eixo do mundo
Incapaz de não ser uma espiral de desejo

As imagens, como sabes,
Ganharam a nitidez pressentida
Tornaram-se uma prova de vida
Um eterno espanto na verdade do coração

Barcos com listas pintadas
Gaivotas com olhos humanos
Árvores arrancadas,
Pinceladas de nuvens coloridas

Tudo, mas tudo te toca
Como se te abraçasse
Para te dar a conhecer o que são
E o que podes ser nesse instante

O vento passou a ser uma mensagem
A cor do mar passou a ser a alma
Reflectindo o espírito
E tu passaste a ser tudo isso

Sem princípio nem fim
Sem tempo nem espaço
Sem pontes que se atravessem
Por estares em ambas as margens

As flores brotaram
As rosas brotaram mais ainda
Nesse Maio incandescente
que sempre havias procurado

Desde o dia em que nasceste.


( Poema e Pintura de Cynthia Guimarães Taveira)

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