sexta-feira, 5 de julho de 2019
Auto-proclamações
Parece haver por aqui vida e não é auto-proclamada, não precisa. É assim que olho em meu redor, em determinados locais. A auto-proclamação está na moda. Há imensas pessoas a auto-proclamarem-se. Quando digo imensas, é mesmo imensas. Pelas ruas de Jerusalém podíamos, e creio que ainda é assim, encontrar as pessoas mais díspares. Um homem, por exemplo, visto por um amigo meu há uns bons anos, andava por lá vestido de Napoleão. Auto-proclamou-se Napoleão à boa maneira de Napoleão que se auto-proclamou Imperador.
A auto-proclamação é como uma febre e confunde-se, nos tempos mais inseguros, com a própria identidade da pessoas. Quem se é, pelo que se é, quem se pensa ser, ficam assim unidos e constituem a imagem que a pessoa quer para si e para revelar aos outros. A auto-proclamação é sempre uma revelação no sentido mais profano do que pode ser uma revelação. E também é uma espécie de bandeirola que serve para justificar, quando se torna necessário (e, às vezes, urgentemente), toda a espécie de actos. Alguns deles tresloucados. Napoleão invadiu uma série de países porque se auto-proclamou imperador e vice-versa, no caso dele. Bem o caso dele não são todos os casos nisto do "vice-versa", mas também não tem importância que não o seja. O que é importante é que haja auto-proclamação. Nas ruas, nos jornais, no Facebook e por aí fora. É a auto-proclamação que devolve a identidade das pessoas quando elas não fazem a mínima ideia quem são (ou que alma têm, como disse Fernando Pessoa no fim da Mensagem). E podem auto-proclamar-se o que quiserem, isso não aquece nem arrefece o conhecimento da sua própria alma, que é quase nulo. Quando me aparecem com auto-proclamações aparece-me logo o fantasma de Napoleão a passear em Jerusalém e a vontade que me dá é de perguntar aos auto-proclamados se trouxeram a bandeirola e a coroa imperial. Por detrás de cada auto-proclamado pode estar um Imperador escondido. Nunca sabemos... há vida por aqui. E a vida, é outra coisa. Assim como a alma que a compõe. Sem auto-proclamações. Não precisa.
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