quarta-feira, 4 de dezembro de 2019
A ilha
Não há texto nosso que não quebre as regras de alguém. Não há respiração que não largue dióxido de carbono. Não há parte que não atinja o todo. Exótica numa escola normal e absolutamente normal na António Arroio. De menos num lado, demais noutro. O dia e a noite, somos sempre pelo dia e pela noite. O meu primeiro amor quebrou as leis, deixou de ser mentira e tornou-se a verdade incómoda para todos. A subversão não é regra. É natural. Na natureza há sempre algo que faz dar a volta e leva ao nascimento da espiral. Existir já é subverter a morte. Rir no meio de um ritual sério é quebrá-lo, chorar numa comédia é desfazê-la, obedecer e escrever é contra a liberdade, escrever livremente é contra nós, ser contra nós é ser a favor do mundo, ser contra o mundo é estar a favor do céu. O destino maior olha-nos face a face e ri-se. Ir contra as regras é uma regra. A vanguarda morre no momento em que nasce. A repetição é anti-natura. A natureza diz sempre o mesmo. Aquilo que somos é uma textura. Tecidos pesados, cortinas de veludo. Cetim se o céu for azul escuro, sedas na manhã de um outro mundo. O pensamento burguês é linear. Faz as regras e desfá-las. Contente fica com os segredos que tece. "Tenho um segredo para fazer estremecer cada velho na família", diz o burguês. Cada velho na família tem um segredo para fazer estremecer os filhos. A papa burguesa nunca deixa de ser papa. Cerelác. O espelho dos seres. A morte confirmada no tédio da transgressão. A criatividade é outra coisa, meu amor. Sem lei, nem roque, é a lei e o rey. Não quer saber nem dela porque é tudo. Quando chegares à sua terra telefona. Apita. Dá sinal. E tenta apanhá-la na ilha dos Amores.
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