(Desenho de Cynthia Guimarães Taveira)

Em conversa com uma amiga constatámos que não temos profissão e que somos olhadas por algumas pessoas como algo estranho e até desprezível. Ela com o curso de engenharia agrícola que nunca exerceu e eu com o curso de antropologia, ainda menos. Se fossemos a julgar as pessoas pelo currículo acabávamos a rir por sabermos que não é o currículo que faz uma pessoa como uma andorinha não faz a Primavera. Por outro lado, se fossemos escrever tudo o que fizemos, um caderno bem grosso não chegava. No mesmo dia, outra amiga, cujo nome antigo significa "Palavra," pediu-me para voltar a pintar. Está bem, eu pinto. Pinto para ficarem as pinturas por aqui, nas divisões da casa, porque o mundo não me quer, só os amigos. Depois de um ano agarrada aos livros a estudar intensamente, a "Palavra" pede para que regresse aos pincéis e sei que em seguida, os pincéis me hão-de pedir para regressar à palavra. E andamos nisto desde sempre. Não tenho é currículo. Quem não tem currículo não tem nada de nada. Mas tem muito de muitas coisas inclassificáveis. Algumas são visíveis apenas para quem quer ver. Outras são absolutamente invisíveis. Mas que las hay, las hay.


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