É quando o povo larga a terra e as actividades tradicionais que, a pouco e pouco, se vai transformando na "chungaria". Existem políticos "chungas" vindos de famílias tradicionais decadentes. E existe também uma massa amorfa (e não plástica) que invade todas as esferas. Quando o povo ascende socialmente, mas não intelectualmente, começa a levar os filhos aos McDonald's, a ter aparelhos de tecnologia sofisticada, a ter acesso à fama, à televisão, começa a imitar todos os sinais exteriores de riqueza material e todos os objectivos mais estapafúrdios de vida que se possam imaginar, como seja "aparecer", ser a "estrela da aldeia", mostrar o novo carro à vizinhança, etc. Quando isso acontece, o povo desaparece e desaparece o seu saber. Esta nova democracia tem como objectivo acabar com o povo e torná-lo um analfabeto militante de ideias sem projectos de vida dignos e, pior, acabar com o seu saber. O povo está em vias de extinção muito mais do que a chamada "classe média" que é um crescente produto híbrido do mercado e uma misturada completa de gente que vive de "conceitos" e para "conceitos" cada vez mais vagos e estereótipados em períodos que coincidem com os da moda, seja ela qual for, Vintage, tecnológica ou mesmo ideológica. Acabando com o povo, acaba-se com um depósito de sabedoria de vida e de experiência. O verdadeiro alvo da democracia é o povo mas não com as melhores intenções. Nos últimos anos tive a oportunidade de poder conviver com o povo e com os "chungas". A diferença é abissal. No primeiro encontrei, sobretudo, curiosidade (é essa a raiz da sua sabedoria), nos segundos, palavra dita em plural devido às sua dispersão geográfica e social, encontrei a total ausência de curiosidade que, facilmente, é substituída pelo "eu acho que", nos casos melhores em que se fica pela opinião, ou por um regime interno verdadeiramente ditatorial de um modo de ser e de estar que são impostos por essa gente aos restantes habitantes do planeta. São esses, os chungas, a matéria prima de todas as ditaduras porque, julgando saber tudo, não têm curiosidade por nada, são meros instrumentos da moda e do tempo, produtos dessas duas coisas ou simplesmente inacabados, com experiência em coisa nenhuma a não ser em casas vazias, sem livros, sem cultura, com um grande écran para ver os jogos, sem actividades que não sejam as mais mecânicas que possam existir, muitas vezes com drogas, sem raízes, sem memória, sem amor. É verdadeiramente assustador. É por aí que a política extremista sem qualquer propósito que não seja o da destruição pela destruição e actuando bastante nas redes sociais (com as quais a chungaria tem uma relação íntima e previligiada) vai fazendo o seu papel bem como as várias anarquias (que nada têm a ver com a Anarquia Superior) espirituais e/ou religiosas, frequentemente de mãos dadas com propostos políticos, e vão cativando aqueles que são ainda mais impostores e falsários das qualidades humanas, do "poder do povo". Não há chunga que queira pertencer ao povo, todos eles se sentem em ascensão. Normalmente estão cheios de direitos e de poucos deveres. O orgulho de um chunga não está no facto de pertencer ao povo está no facto de sentir que já saiu dessa classe social. O orgulho dos chungas nada tem a ver com a dignidade do povo. O povo é sábio, os chungas não. Com o povo pode aprender-se, desaprendendo-se para se voltar a aprender, com os chungas só se desaprende porque não têm absolutamente nada para ensinar. A democracia, regime que na sua origem grega era altamente elitista, quando deixa de o ser, sofre a sua própria auto-destruição. Tem como alvo o povo que quer transformar numa elite sem perceber que o povo já é uma elite. Todas as classe sociais são elites porque são distintas. Essa distinção é a sua personalidade. O seu modo único de ser. A "ascensão" social (que é possível), só é possível com uma ascenção intelectual. Ou seja, uma cada vez maior e mais profunda consciência do que se sabe. Se essa ascensão não for acompanhada por isso não há ascensão nenhuma, aquilo que há é uma regressão que pode raiar a animalidade (no que tem de besta) e uma cada vez maior mecanização (que por definição é desalmada). As duas coisas juntas ficam a um passo da barbárie que vai alimentar sempre as ditaduras. Não se vota por duas razões: ou porque porque se pertence, de facto, a uma elite que não quer colaborar nesta fábrica democrática de chungaria que mais tarde irá desembocar numa qualquer ditadura ou porque se é chunga. Por paradoxal que seja, aí, encontram-se, mas a raiz das duas intenções é totalmente diversa bem como o número: a elite intelectual é pouco numerosa, os chungas são em grande número. Os primeiros sabem quem são e o que querem e o os segundos não sabem quem são nem o querem Os chungas só sabem o que não querem. E não querem a democracia. Querem uma ditadura, não têm é consciência disso, nao sabem disso. À sua imagem e semelhança.
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