quarta-feira, 18 de dezembro de 2019
Sinarquia
Quando imagino o Quinto Império, o Império do Espírito Santo ou a Idade do Ouro que será a próxima, não imagino uma Sinarquia onde Homens Superiores modelam Homens Inferiores. Imagino uma verdadeira Anarquia Superior onde cada um é dono de si próprio num mundo mais leve, mais subtil e mais luminoso e onde não é necessária a Iniciação. A Idade do Ouro é a maior em duração e contém em si qualquer coisa de conclusivo e de início perpétuo. Se é conclusiva não necessita de descer a ciclos onde a Sinarquia é necessária para encaminhar os homens. Eles já estão encaminhados. Suspeito sempre de quem defende a Sinarquia como uma espécie de solução definitiva. Neste momento lida o mundo com uma Sinarquia de magnatas, não andamos bem e sabemos que os magnatas nunca irão lançar uma passadeira vermelha para que os homens superiores possam passar e encaminhar os homens. Antes pelo contrário. Aquilo a que se assiste são a sucessivas passadeiras vermelhas onde autênticos fantoches dançam e se esgrimem nas campanhas eleitorais acabando por chegar ao palco onde concluem o espectáculo de desnorte. Para se reconhecer a superioridade há que ser superior. Um magnata reconhece o dinheiro mas não consegue reconhecer mais nada e quando o faz é a título ou de as velhas palavras "muito interessante", o que demonstra que é um interesse passageiro, a título de divertimento ou a título de conseguir ganhar mais poder e dinheiro. Ou seja, não percebe nada. Podemos pensar numa Sinarquia, num governo de alguns, superiores, como forma de transição entre Idades, tornando a passagem cíclica suave e pouco radical. É bom pensar assim. Mas a verdade é que depois de ler umas coisas aquilo que é dito é que há uma passagem por "intervenção divina" do cubo (ponto máximo da matéria grosseira) para o jardim celeste. Isto vem ao encontro da importância da Providência no desenrolar da História. Pensei muito na Providência e cheguei à conclusão de que ela diz muito mais respeito à natureza íntima dos seres do que propriamente à sua história. Se dois seres se encontram e existem pontos coincidentes nas suas histórias isso deve-se, não às histórias em si, mas sim à sua natureza íntima que os levou a determinadas histórias bem como a um entendimento semelhante das mesmas. Inverter isto é colocar o tempo e o devir à frente daquilo que é eterno. Simplesmente não é possível. Assim, quando falamos do próximo ciclo isso parece ser em simultâneo algo de muito complexo e de extremamente simples. Deve haver disposição interior, evidentemente, mas sem uma natureza íntima propícia nada poderá acontecer. E isto nada tem a ver com raças, manipulações genéticas e horrores semelhantes. A natureza íntima escapa-nos porque está no domínio do transcendente (está ideia vanguardista de que dominamos tudo e na qual se confunde a submissão inerente ao domínio com conhecimento é alheia à ideia de fusão, essa sim, o verdadeiro conhecimento) e aquilo que é transcendente, como a palavra indica, transcende-nos. Como se confunde a "humildade" com uma qualidade superior. A humildade implica sempre submissão nem que seja num grau muito pequeno, ela está sempre lá. Nada nos diz que o transcendente requer a humildade. Se requer, é apenas para nos dar a ideia de perfume, não o perfume em si do transcendente. É passageiro. Domínio e humildade facilmente resvalam ou na cegueira do poder ou na ignorância mais resistente e todos conhecemos casos de humildade que escondem a grande vaidade... Assim, se falamos em transcendente outra palavra ocorre: liberdade. Essa, sim, coincide porque aquilo que nos transcende, de facto, é a liberdade, não é o domínio nem a humildade, com esses lidamos nós todos os dias. Com a liberdade é que temos dúvidas, escapa-se das nossas mãos.
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