Não há noite que não seja um altar
de sentidas vidas
recolhidas numa estrela
Não há alguma que não seja um louvor
de permitidos sonhos
para outros dias
nem que nela não se erga um cálice
de dúplices figuras
enlevadas para além das Eras
ou que não seja a verdade
na ausência despida da luz
e que não cintile
ou que não seja ainda a espera
como o outro lado da certeza
e a certeza como o outro lado da esfera
Não há noite que não seja nossa,
até a dos mortos, quando nela se apagam
e dela se desapegam
Não há noite que não una
o inominável numinoso
nem dia que nela não se camufle
Não há manto mais capaz
de aquecer
na fria ausência
de um cosmos de imagens
nítidas
Não há uma em que não entendas
o estranho e inaudível
sentido de uma carícia
e a nova canção desconhecida
entoada pela manhã
Todas elas são antemão
da mão que o dia dá
Não há noite, nem poema
Que não durma
depois de nascer
gerados nela
e antes de acontecer
Cynthia Guimarães Taveira
17-01-2014
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