Cá em casa, entre algumas aventuras que nos foram dadas viver, contam-se as célebres “Aventuras na Casa Fernando Pessoa” e, que, pelos vistos, continuam. A primeira delas começou com uma edição especial feita pelas Edições Caixotim com a colaboração de António Carlos Carvalho e serigrafias de minha autoria. Apresentação da obra foi na Casa Fernando Pessoa, com convidados e exposição de alguns quadros meus. A direcção, qualquer membro que fosse, não apareceu. Depois seguiu-se a apresentação da” Mensagem” de Fernando Pessoa, desta vez em Mirandês, pelas Edições Zéfiro. Nesse dia, ninguém da direcção esteve presente, nem se interessou. E agora, não há duas sem três, depois da Direção ter vindo dizer que, embora “acolhesse” a apresentação de uma nova obra na Casa Fernando Pessoa, o nome da famosa Casa não podia aparecer nos convites (essa obra, a propósito, debruça-se sobre os antepassados judeus de Pessoa e a Inquisição) e o resultado foi o autor desistir de fazer lá a apresentação por não se sentir acolhido coisa nenhuma. A apresentação da obra iria ser feita por António Carlos Carvalho. Mas, como não há três sem quatro, lembro um episódio caricato passado nessa Casa Amaldiçoada: num dos aniversários da morte de Fernando Pessoa foi feita uma iniciativa para lembrar o poeta. Lá fomos alegres e curiosos dar conta do evento. Chegámos logo no início e, do início ao fim, uma série de autores daqueles da moda, foram sucessivamente falando das suas respectivas obras e lendo excertos delas. Sobre Fernando Pessoa, nem uma palavra. Pareciam estarem todos alheios à origem temática do encontro. Estava lá a Adília Lopes, muito atenta a tudo o que se passava. Soubemos que vai haver, para breve, uma actividade com esta poetisa, onde lerá, por certo, os seus delirantes poemas. É justo. Afinal, estava muito atenta ao que se passava.
E agora, a conclusão dita pelo António quando soube que não iria haver apresentação nenhuma, citando Alexandre Herculano: “Este país dá vontade de morrer!”. Depois de tantas aventuras na Casa Fernando Pessoa é natural que cite o o historiador já esquecido.
Isto acontece porque este país não é para vivos, mas sim para os fantasmas do mundo académico e editorial que deambulam pela Cultura e cuja alma empedernida é pouco sensível, tanto a Pessoa, como a todos aqueles que não são fantasmas como eles... Sempre pensei que deveria dizer “I see alive people”, em vez de pessoas mortas, porque, Fernando Pessoa está muito mais vivo que toda essa gente aparatosa e seletiva que tem povoado a Casa Fernando Pessoa. Admitem apenas alguns nomes. Admitem aqueles que consideram que já têm algum nome, quando o nome de todas essas pessoas não interessa para nada. O que interessa é Fernando Pessoa e se há bastardos a interessarem-se por outras formas de abordagem à sua vida e obra, gente “sem nome”, mas que ama a obra do poeta, a Direção só tinha que os acolher como deve de ser e aceitar seguir o exemplo de Pessoa que foi um sol com vários raios, plural e multifacetado. Quando não são isso, não são dignos sequer de o citar, são meros peões do jogo académico, cultural e político que percorre o nosso cada vez mais miserável país.
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