segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Do barco à caravela


 
Barquito, casca de noz
Tua graça imensa
Não compensa
A vil vontade dos ventos
 
Barquito, frágil
Ao barlavento
Perdido andas
Na rosa dos ventos
Nem norte, nem sul
São as absolutas margens
Do horizonte transbordante
Do outro lado que não sentes
 
Barquito vazio
Sem ninguém que seja alguém
Andas hoje e além
Recebendo das nuvens
As chuvas várias
Desde as finas gotas
Às outras, maiores,
E menos soltas...
 
Barquito simples demais
Balanças em vertigem e abundância
Dia a dia, com ontem e depois
Se de fora do tempo te pudesses ver
E a essas ondas servindo-te o mudar
Na sensação de vontade e boa esperança
Em alvas velas se ergueria teu sorriso
tocando em sua curva a orla
de uma outra despedida...

Nada na tua solidão, barquito só
É teu e único crer
Se dos ventos e marés
És deles só um ter
Enche o barco d’alma
Enche o barco de ti
Fa-lo transbordar
Para além daqui
 
Três vezes rodará o mostrengo
Três vezes a resposta darás
A dos remos, a do leme
E a das velas que o tempo teme...

 
(Cynthia Guimarães Taveira)

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