segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Oleiro


Conheci um velho oleiro
Que girava com o barro
Na roda do eterno mundo
Cada dedo sulcava o destino
Cada medo era abismo conhecido
Girava o barro e o oleiro nele
Deixava na ânfora animada
Parte do mistério para sempre moldado
Braços e pernas em ritmo marcado
Sofrem na matéria o efeito desejado
À parede o barro não atirava
Pois a sorte não se encontrava
Nem no destino, nem no pensamento
Apenas na terra pela terra dada
E nessa roda-viva, de sonho e sujidade
A ânfora crescia em mestria e idade
Na história que os homens são
E no espirito irrequieto da alteridade
Brilhava o sol da manhã que cedo entardecida
A roda girava no fundo que é mais fundo
Recuperava cacos de pó dos deuses que foram
Das avenidas que retornavam
De ânforas que em novas se tornavam
Conheci um velho oleiro
Mais velho que o mundo
E dançava na História em jeito de novo ser
Por dentro e por fora dessa ânfora
Guardiã da frescura de novos segredos
E daqueles apenas que a História quer


(Cynthia Guimarães Taveira)

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