terça-feira, 14 de outubro de 2014

No alto mar



Foi esta ruptura absurda,
Vinda não sei de que mar,
que obriga à separação,
que abriga a imensidão.

Foi esta história simples,
de acontecer a arfante fuga
do imenso espelho do ser,
na verdade insubmissa e cruel,
de nada poder contra as palavras,
esvaziando-me e enchendo-me o ser.

Foi esta incapacidade de não conhecer
outra coisa senão estados do mar
que são só vagas de palavras a falar.

Foi esta a longura sem distancia,
este momento de vingança ,
em que um céu maior que o ser,
o invade e o alcança,
em mortificação transparente
de diferentes tempos a acontecer.

Não sei de que mar, de que humor, de que deus,
de que norte ou desnorte veio o vento...
Este remoinho de sóis,  esta arte sem saber,
quem dera a voz, dos trovões, dos mares
Pudesse dizer, na sua pura firmeza,
ser a nave puro espírito, 
adormecendo e aconchegando
a febre do que é existir em palavras vivas

Nada, nada nem ninguém,
sabe o que o Verbo, pode e faz acontecer...
E de que modo se move por entre as frestas da alma,
e de que modo canta nos intervalos das veias,
e de que modo faz as flores nascer em alto mar,
E como se solta em pombas rápidas,
E de que modo é ele mesmo sempre a nascer...


(Cynthia Guimarães Taveira)

 

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