quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Impossível não reparar...



E troca-se a vida por um jogo político
E troca-se o brilho das estrelas
Pela baça pele do palhaço
E nega-se a luz, dizendo luzir demais
Não há fartura que não dê em fome
Não há caixote do lixo que não se encha
Com as danças, os poemas, as cores
Vestem-se vestes humildes
Cuidadosamente escolhidas por entre lantejoulas...
Os valores  espetam-se em bandeiras e guerras
Os tsunamis apaixonados não varrem parlamentos
Todo o carisma é assassinado à nascença
Os lampejos de vida pagam-se
Em vida vivida em branco, na utopia
A qualidade só o é em região demarcada
As fronteiras diluem-se por não haver seres
E não por os haver....
Os semi-vivos são a sombra por onde se arrastam
As boquilhas são exibição e exiladas
As memórias a única razão
O medo alastra-se no excesso do saber desvivido
As carapaças prudentes chocam no trânsito
A flor rara é aberrante por ser berrante
O sol queima mais do que dá vida
A corrida do cavalo é interrompida
E todos se riem num esgar entristecido
Consigo, com o mundo, em eterna despedida
Impossível não reparar e não tentar reparar
nem que seja reparando...
 
(Cynthia Guimarães Taveira)

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