As saudades são a materialização da Saudade.... o que as
separa é esse “S” que é marca portuguesa... dupla espiral que obriga à saída e
retorno a si. É a diferença entre a serpente e o dragão... nas asas... é o
movimento das Ophiussas que marcam o solo terrestre, sua saída pelo mar, sua
aquisição de asas lá... pelas velas que olham os astros, sua mudança de
condição assim, contendo, no entanto, e sempre, a serpente interna que de si sai
e a si regressa em movimento perpétuo... daí, o “saber de experiência feito”,
a não negação da memória, a procura da sua vivificação e sublimação, enfim, quando
se dá regresso a si... enquanto outra viagem paralela é feita, pelo
mar do mundo e no qual, sem abóbada celeste, não seria possível... sendo que
para se entender a linguagem das estrelas é necessária a aquisição de asas...
científica até ao limite do imprevisível astróide... nunca, totalmente exacta.
Sebastos está amaldiçoado pela materialização absurda da
Saudade e... no entanto... tal materialização absurda da Saudade é a sua
própria evocação. Em comum, têm as saudades e a saudade a incapacidade de o
serem sem conhecerem aquilo para que nasceram... não há nem saudades nem
saudade sem um pré-conhecimento... quando nos afastamos desta verdade essencial
que está na raiz destas palavras, afastamo-nos de Portugal e daqueles que
Portugal contém. Não é um produto puro da imaginação, a Saudade, tal como as
saudades não o são... quando o são, não são nem Saudade, nem saudades... são a
noite. Às vezes encerramo-nos na noite procurando lá as saudades e as saudade e...
no entanto, só em pleno dia elas se manifestam: a primeira iluminada pelo sol,
a segunda iluminada por todas as estrelas conhecidas e desconhecidas. Há um rigor
atmosférico na portugalidade... um rigor que, porém, nasce e vive nas
vicissitudes da alma... à qual o anjo custódio está atento.
(Cynthia Guimarães Taveira)
(Cynthia Guimarães Taveira)
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