segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Ela e elas...


As saudades são a materialização da Saudade.... o que as separa é esse “S” que é marca portuguesa... dupla espiral que obriga à saída e retorno a si. É a diferença entre a serpente e o dragão... nas asas... é o movimento das Ophiussas que marcam o solo terrestre, sua saída pelo mar, sua aquisição de asas lá... pelas velas que olham os astros, sua mudança de condição assim, contendo, no entanto, e sempre, a serpente interna que de si sai e a si regressa em movimento perpétuo... daí, o “saber de experiência feito”, a não negação da memória, a procura da sua vivificação e sublimação, enfim, quando se dá  regresso a si...  enquanto outra viagem paralela é feita, pelo mar do mundo e no qual, sem abóbada celeste, não seria possível... sendo que para se entender a linguagem das estrelas é necessária a aquisição de asas... científica até ao limite do imprevisível astróide... nunca, totalmente exacta.

Sebastos está amaldiçoado pela materialização absurda da Saudade e... no entanto... tal materialização absurda da Saudade é a sua própria evocação. Em comum, têm as saudades e a saudade a incapacidade de o serem sem conhecerem aquilo para que nasceram... não há nem saudades nem saudade sem um pré-conhecimento... quando nos afastamos desta verdade essencial que está na raiz destas palavras, afastamo-nos de Portugal e daqueles que Portugal contém. Não é um produto puro da imaginação, a Saudade, tal como as saudades não o são... quando o são, não são nem Saudade, nem saudades... são a noite. Às vezes encerramo-nos na noite procurando lá as saudades e as saudade e... no entanto, só em pleno dia elas se manifestam: a primeira iluminada pelo sol, a segunda iluminada por todas as estrelas conhecidas e desconhecidas. Há um rigor atmosférico na portugalidade... um rigor que, porém, nasce e vive nas vicissitudes da alma... à qual o anjo custódio está atento.

(Cynthia Guimarães Taveira)

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