quarta-feira, 28 de outubro de 2020


 

Fecho portas e janelas e finjo-me ser uma casa abandonada. No jardim suspenso de uma qualquer memória, ouço hinos oscilando ao vento. Por entre as frestas dos ramos das árvores, o sol impõe-se. Nada é como foi, nesta terra. Foi tudo imaginado por alguém que quis, sem forças, suportar o mundo nos ombros. E agora, flutuamos livres no espaço. A forma da poesia altera-se e passa a ser um rio, em vez de uma pirâmide de palavras. Uma vez sabendo, perde-se a casca seca que se agarrava à arvore surgindo esta, agora jovem, com ramos lançados à vida. E balouço num salgueiro simples, cujo movimento perpétuo é o de se deitar nas águas da poesia. Em vez de nuvens, há sóis. E as manhãs são as pontes que pisamos ao atravessarmos o lago das ideias. Descomplica-se o mundo com uma tenaz e, dos nossos dedos, ergue-se o barro dos seres.


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