A ausência de símbolo incomoda-me tanto como uma pedra no
sapato. Quase não me deixa andar. É isso que mais me assusta na nova arte. A falta
de linguagem simbólica. Quem vive e está num jardim vive rodeado de símbolos. Esses
símbolos estão todos ligados à fonte. São portais que se abrem. Sucessivos. Uns
a seguir aos outros. Um jardim é como o Nilo. Desagua a Norte. Desagua na
fonte. Sempre pintei símbolos. Sempre vivi num jardim. Sempre fui quase
invisível como são os jardins. Quando vou num jardim e encontro um vaso tombado
pelo vento, levanto-o sempre. Não o piso. Levanto-o. Um vaso tombado pelo vento
é muito mais simbólico do que aquilo que se pensa. Muito mais forte do que
aquilo que se pensa. Um vaso tombado num jardim é o início de muitas coisas e
pode chegar a constituir o eixo da integridade. Pode ser o encontro inato com o
jardim. Pode ser a natureza a desvendar-nos a nossa própria natureza. Pode ser o
silêncio donde brotam palavras d’oiro. O mistério de Portugal é o jardim que é.
terça-feira, 13 de outubro de 2020
Símbolos
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Lindo.
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