terça-feira, 13 de outubro de 2020

Símbolos


 

A ausência de símbolo incomoda-me tanto como uma pedra no sapato. Quase não me deixa andar. É isso que mais me assusta na nova arte. A falta de linguagem simbólica. Quem vive e está num jardim vive rodeado de símbolos. Esses símbolos estão todos ligados à fonte. São portais que se abrem. Sucessivos. Uns a seguir aos outros. Um jardim é como o Nilo. Desagua a Norte. Desagua na fonte. Sempre pintei símbolos. Sempre vivi num jardim. Sempre fui quase invisível como são os jardins. Quando vou num jardim e encontro um vaso tombado pelo vento, levanto-o sempre. Não o piso. Levanto-o. Um vaso tombado pelo vento é muito mais simbólico do que aquilo que se pensa. Muito mais forte do que aquilo que se pensa. Um vaso tombado num jardim é o início de muitas coisas e pode chegar a constituir o eixo da integridade. Pode ser o encontro inato com o jardim. Pode ser a natureza a desvendar-nos a nossa própria natureza. Pode ser o silêncio donde brotam palavras d’oiro. O mistério de Portugal é o jardim que é.

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