sábado, 18 de maio de 2019

O museu das coisas antigas

https://www.msn.com/pt-pt/video/sicnoticias/diretor-do-museu-de-arte-antiga-mant%C3%A9m-decis%C3%A3o-de-se-demitir/vi-BBTyqqJ

A senhora ministra da cultura sofre da síndrome partidária e, a julgar pelo amor que demonstrou à colecção Berardo, só gosta de coisas novas. Portanto, temos uma tutela da cultura e da pintura que não percebe nada de arte tal como Berardo não percebe nada de arte.
O Museu de Arte Antiga merece todo o apoio do Estado. Não há volta a dar.
Estou ciente que sou retrógrada em matérias artísticas e talvez seja por não conseguir dissociar o ser humano da arte. Se me derem a escolher ir para uma ilha deserta com obras representativas cujos critérios fossem "o belo" ou "a expressão", não hesitava em escolher o "belo" porque o belo coincide sempre com a "expressão" já a "expressão" nem sempre (e cada vez menos) coincide com o belo. É difícil viver assim. A determinada altura desiste-se, fechamo-nos em casa e pensamos que este mundo não está feito para pessoas da minha espécie. Nem tudo deveria ser uma guerra, nem tudo tem de ser uma guerra. Há coisas óbvias que se vêem ou não vêem. Já me acusaram de desistir sem perceber que quem desistiu foi o próprio público. O próprio público vendou os olhos e foi levado a isso. As educações modernas promovem a "tolerância" até onde ela é ridícula. Por isso promovem a cegueira. Esta Ministra é muito moderna. Moderna demais para ir ao Museu de Arte Antiga. É mais uma. As pessoas estão-se nas tintas sem pegarem num pincel. Tive a sorte de encontrar pessoas que me disseram que estava certa nesta minha sensibilidade. Foram muito poucas mas deram-me algum consolo. Recordo-as e vejo-as como ilhas únicas isoladas no meio do caos. Houve pessoas que perceberam tudo. Que perceberam que o ser humano não é indissociável do que faz. Que ambas as coisas contam e são importantes. São todos cabeças antigas com um respeito imenso pelo belo. O respeito neste caso é muito belo. Há certos olhares que não esqueço, tão profundos e tão compreensivos. Conheci muitas pessoas que não perceberam nada. Porque perceber é algo interno que se sente e não é visível. Houve pessoas que brincaram comigo como se eu fosse um brinquedo. Como se a arte fosse um brinquedo. Vivemos uma ditadura profunda que se vê apenas pelas atitudes. Pelos troca-tintas que não pegam num pincel. Que não sabem nada. As ditaduras são visíveis pelos frutos. E hoje ou não há frutos ou estão podres. Fechei-me pela incompreensão dos outros. Cansei-me. Mas sei que levo comigo tesouros.

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