Dei comigo próxima de meia dúzia
de pessoas. Ainda que as “filosofias espirituais” digam todas que estamos muito
ligados por fios invisíveis, na realidade, isso ultrapassa-me. Mesmo se cada
gesto meu tiver uma repercurssão maior, e tem (independentemente do que pensem
sobre o assunto), na verdade, apenas meia dúzia de pessoas estão
verdadeiramente próximas. Imaginar as repercurssões dos nossos mais pequenos
gestos pode ser um passatempo e pode ser uma fantasia. Na verdade, não sabemos.
Não sabemos ao certo. Sei que me aconteceram coisas demasiado inusitadas para
serem escritas e para serem, sequer, compreendidas. Esperamos sempre que a
compreensão faça parte de uma linha de raciocínios, de uma demonstração. Tal
coisa não chega para descrever o que me aconteceu. Também podemos compreender
as coisas pelo coração (a aí, andamos mais perto), mas, ainda assim, parece o
resultado de um filme que nos faz lacrimejar, ou rir, ou outra coisa qualquer.
Aquilo que me aconteceu vive em mim numa absoluta e concreta solidão e mesmo
que tenha tido muitas “repercurssões”, se é que as teve, a verdade é que, em
si, o acontecimento, é único, irrepetível e incompreensivel na sua totalidade.
Quando as coisas são grandes demais, são grandes demais. Sei que me alterou muito
embora parte do acontecimento fosse uma remeniscência e outra parte, não o tenha sido. Com aquilo que me
conteceu dei por mim próxima de apenas meia dúzia de pessoas. Quando estou com
outras que não essa meia dúzia, estou e não estou. Nem quero saber se estou ou
não estou. No fundo, não quero saber. A dama transformou-se no unicórnio e
quando isso acontece as fronteiras ficam demasiado bem definidas e o fundo da
tapeçaria ganha o exacto realce de ser um pano de fundo. O fundo da tapeçaria
poderia ser liso, opaco, sem dimensão. Mas não é. O fundo da tapeçaria são
essas outras pessoas que não pertencem à meia dúzia. Estão lá, realçadas, no
entanto, a cena principal não é essa. É a dama e o unicórnio. E a cerca, e a
tenda e pouco mais num jogo simbólico que não necessita de muitos mais símbolos. Não se trata
de uma simplificação, de um resumo, de uma abstração, de uma síntese. Trata-se
de uma “essencialização”. Não se trata daquilo que é essêncial depois de algo
passar pela peneira, é bastante mais do que isso. A “essencialização” é a
transmutação em potências. Aquilo que estava em acto regressa à sua origem
essencial, à sua essência.
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