quinta-feira, 6 de junho de 2019
O Porta-chaves
Tenho novidades da Suécia e tenho novidades da Catarina. Ora bem, a Suécia fica distante e nunca me viu na vida. Toma a letra como verdade. A Catarina, com os seus onze aninhos, é mais espontânea. Aceita qualquer figura que faça. Às vezes faço imitações para lhe poder explicar melhor as coisas. Ela ri-se umas vezes, outras diz: "Oh, não, tu estás boa da cabeça?!", Outras diz assim: "Estou parva contigo!", "Outras diz assim: "Eu nunca vou arranjar uma explicadora assim, tu não existes!!!" E outras vezes diz-me coisas que são montanhas, quando não estou a fazer figuras tristes, e me debruço sobre o livro. Abre a boca e lá vem a seta, directa ao meu coração. Exacta. É sabido que a Suécia se escreve com um "S", e que Catarina com um "C". O "S" é, para Portugal, uma letra dúbia, como é sabido desde que foi observado (li em António Quadros, salvo erro), que os nossos governantes tendem a ter a Letra "S" no nome desde D. Sebastião, com um interregno, é certo, mas as Repúblicas levaram esse facto muito a sério. A letra "C", em Portugal é uma letra incrível porque há uma enorme quantidade de palavras começadas por "C". De maneira que fiquei entre o "S" e o "C", mas foi a Catarina que resolveu melhor o problema porque me "C-onhece" há cinco anos e tem estado comigo todas as semanas desses anos menos em Agosto. Assim sendo, e o que me disse a Catarina foi tão avassalador e tão certeiro, que me fico por aquilo que ela disse. Ainda para mais faz conjunto com a Suécia (deslavada) onde nunca estive e nem tem consciência do que estou para aqui a dizer. Também há a questão da precedência, a Catarina falou primeiro. Também é importante.
Resumindo: o mundo interno de todos nós é impenetrável a não ser por aqueles que nos Conhecem e nos falam directamente ao coração. Podem até ser desconhecidos (a Suécia acertou em parte mas foi ao lado, onde não quis) mas vão direitinhas à questão. Ainda bem que assim é. E, ainda por cima recebi um presente da Catarina lindo de morrer. Um porta-chaves para a minha chave. Sempre achei os Comunistas estúpidos. E continuo a achar. Bem intencionados mas estúpidos. Até gosto do Jerónimo, é bom homem, mas já o Buda dizia que o bom coração não basta a inteligência é igualmente necessária. E o "colectivo", as "massas", são acéfalas. A Idade do Espírito Santo será dos poetas. Será daqueles que sabem quem são e que alma têm, ou seja, e mais uma vez volto a dizer que confundir "colectivismo" com a "abundância" é para cegos. Nunca houve, nem nunca haverá um "comunismo" abundante, gera sempre probreza. Daí que, entre "comunismo" e "comunitarismo" haja um fosso absoluto. O "comunismo" gera carência, como se viu, o "comunitarismo" gera abundância. O primeiro é um regime económico, com base materialista, o segundo é um modo de vida (nem é regime - só a palavra Regime assusta porque faz lembrar "dieta", ou seja "carência") que gera a generosidade. E volto a repetir, a caridade corresponde à carência, a generosidade corresponde à abundância. A justiça social à portuguesa sempre foi feita pela "generosidade" das "comunidades", nunca, mas nunca foi feita por qualquer espécie de comunismo por mais "Católica" e "Conservadora" que seja a imagem com que nos presenteia por vezes. Assim sendo, a raíz do povo português é a generosidade. Foi ela que nos manteve durante os períodos de crise, que manteve famílias anónimas inteiras. As paróquias tiveram o seu papel, como sempre têm, ajudando os mais desfavorecidos, nada contra, mas também nada que não seja o Dever dos que se dizem Católicos, mas a base da nossa resiliência na sua grande maioria foi a da generosidade, de amigos para amigos, de avós para netos, de pais para filhos. Quem tinha mais, durante a crise, ajudou aqueles que lhes eram próximos. Isso constitui a verdadeira força portuguesa. Não é nem a caridade católica (que canaliza apenas a generosidade de alguns), nem o Comunismo que pretende fazer o mesmo em termos políticos e económicos, mas sem êxito. A base é a generosidade, nunca a caridade. Uma pessoa "abundante" pode dar a outra pessoa "abundante", uma pessoa "caridosa" só dá a pessoas carentes, no primeiro exemplo há liberdade, no segundo exemplo não há liberdade, há dever. A caridade é o alimento dos burgueses com vista a alcançar o céu, é o alimento dos padres que querem o mesmo, é o alimento dos Comunistas que querem o poder (o comunismo nasce com a ideia de poder, mesmo que seja o poder do povo, e não tem a noção de centro, tem a noção de Comité Central, ou seja, de um Olimpo...). A generosidade não se preocupa em alcançar o céu. Não é um negócio. É Deus em Nós, é o Rei em Nós. Não há Comité Central. Nem há Hierarquias Eclesiásticas que são a mesma coisa com a figura do Papa a fazer de Deus (uma aberração, uma teocracia mal disfarçada). A abundância, tal como o Espírito, está ligado ao feminino. A Deusa, só com este nome e mais nenhum, não pertence a nenhum Olimpo. Todos os deuses de todos os Olimpos têm nome. A Deusa, como o Espírito e como Deus, não tem nome. Todo o nome, como ensinou Guénon, delimita. Ao serem nomeados, os animais, ficaram delimitados e limitados. É uma utilidade (e limitação também) terrestre, tal como os deuses do Olimpo nos Lusíadas foram uma utilidade nos Descobrimentos. Quando se fala se Espírito, fala-se de outra coisa. Daí o erro em nomear Deus, nem que sejam noventa e nove nomes. São limites. A nomeação pela negação praticada nas Igrejas Ortodoxas, é mais próxima do Real: "Deus não é isto, Deus não é aquilo", o que é então? Abre as portas para a questão. Foi o "S" e o "C" que me levaram a escrever este texto. Não foi a Suécia nem a Catarina. O "S" e o "C" são unidades isoladas. Podemos dizer que são "nomes de letras", mas limitam a "letra em si", não o nome. Como os indivíduos não limitam a comunidade nem a comunidade limita o indivíduo. O comunismo limita o indivíduo, submete-o à comunidade numa suposta liberdade dirigida por um comité central. O comunismo é uma pirâmide invertida, onde supostamente a base é o topo. O comunitarismo é uma esfera. Uma esfera armilar, todos equidistantes do centro. Todos são o centro e a periferia. A ideia Lusa é a da Esfera, a da Curva. Herdamos as pirâmides duma civilização que se afundou. Curiosamente, a Atlântida, quando funcionava, era circular. A espiral está presente nas nossas pedras mais antigas, no "S", a curva no "C". A pirâmide concentra energia, a esfera é pura energia. Há três volumes fundamentais nisto tudo: o cubo, a pirâmide, a esfera. Da esfera ao cubo passando pela pirâmide e do cubo à esfera sem passar pela pirâmide. Porque a passagem do ferro ao ouro é súbita (daí que toda a via húmida tenha obrigatoriamente que ter um ou mais momentos de via breve...). Não sou eu que falo nessa passagem súbita. É a Tradição. Basta ler. Olha que dia este!
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