domingo, 17 de março de 2019

A Grandeza dos Antigos


O problema da psicologia é que não explica a grandeza dos Antigos e, quando explica, claramente os vai diminuir a uma relação de acções e reacções.  Mas até os deuses, aos nossos olhos humanos, são diminuídos e rebaixados à psicologia elementar e primitiva com uma pitada de imprivisibilidade no seu comportamento para lhes dar a graça e o propósito do seu comportamento que já está viciado por uma interpretação à priori. A verdade é que, nem conhecemos a Grandeza dos Antigos, apenas as obras que restaram deles, nem conhecemos os deuses, a não ser por histórias das quais ouvimos falar. E é com elas que construímos a noção de grandeza e a nossa própria noção dos deuses. Construímos noções. O encontro com os Grandes e com os deuses, é coisa de Grandes. Quando as grandes figuras da História tiveram o seu encontro com os deuses, só puderam calar. E fizeram-no porque sabiam que iriam falar numa linguagem estranha a qualquer outra linguagem do planeta. A redução psicanalítica é sempre um rastejar absolutamente nebuloso face à grandeza do Espírito e a tentativa de o enquadrar dentro de limites comportamentais, é uma tentativa para satisfazer tudo aquilo que é lógico em nós. A imprevisibilidade do comportamento dos deuses é uma construção psicanalítica e, assim sendo, não pode ser verdadeira, só a é dentro da explicação psicanalítica. O que leva um deus a amar um homem? Nunca esta pergunta foi posta pela psicanálise porque para ela os deuses não existem, são meras produções da mente, sem existência própria. E se tentar responder, a psicanálise, nada mais faz senão reduzir o amor divino ao amor humano. A Grandeza dos Antigos, passa por uma relação dinâmica com o que lhe é absolutamente desconhecido ou com aquilo do qual só conhece uma parte. Daí a tentação mágica de os invocar apesar de eles serem totalmente independentes de nós, os restantes, que não são independentes de nós, são meras forças demoníacas alimentadas pelo nossa própria alma e atenção (a atenção é o lugar para onde se volta o Espírito contemplativo). A tentativa bizarra das modernas escolas autoproclamada de "iniciáticas" de tudo quererem resumir a mecanismos psicológicos mostra bem a ausência de Iniciação nos tempos correntes. E a tendência que há em confundir Iniciação com Destino é outro mecanismo bizarro e contra iniciático que mais não é do que a História do Final Feliz dos filmes americanos adaptada à vida. Se, no fim, tudo faz sentido, então tudo é desculpável, se Judas fez o que fez, então é porque o tinha de fazer. O plano mitológico da questão é plasmado no comportamento humano, reduzido a uma psicologia humana que se coloca em bicos dos pés para espreitar o patamar dos deuses quando baile deles já terminou.
O resultado de tudo isto é, exactamente, a falta de Grandeza. E, como consequência, a falta de capacidade, sequer, de a reconhecer. Quando um boi olha para um palácio, sabe que está a olhar para um palácio, quando não há palácios, olha para os outros bois e pensa que são palácios. Entre o saber e o pensar vai um grande passo. Diria mesmo, um passo gigantesco, um passo que só a Grandeza dos Antigos sabia dar.

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