sexta-feira, 29 de março de 2019

Cada Um é Como Cada Qual



A variedade de "católicos" portugueses anda próxima da quantidade de católicos portugueses. Isto quer dizer que penso que nunca vi um católico igual a outro. Facilmente abrem a boca e dizem o que muito bem entendem, o que concordam e discordam relativamente aos dogmas da religião em que foram educados, até porque desconfiam que são voláteis.  Depois há aqueles que nem pensam nisso e outros que se dizem cristãos, simplesmente, e cuja paleta vai do mais vago cristão ao mais definido e até profundo.
O anticlericalismo é a nota dominante. O clero pode andar por aí, tudo bem, não pode é pisar determinados riscos porque à mínima coisa o povo perde todo o respeito pelos representantes do catolicismo e manda-os literalmente passear. Basta ver alguma notícias ao longo dos anos do país, de Norte a Sul, que relatam que os "populares", descontentes com o padre que lhes calhou em sorte, batem o pé, sugerindo que o padre da sua paróquia se vá embora pelo próprio pé.
Uma vez por ano lá vai um milhão, ou mais, para Fátima, porque a figura feminina é muito importante para os portugueses, mas não há, nem pode haver, um acordo entre as ovelhas que são todas negras. Mais concretamente, são todas às cores. O fundo mais intenso e cujo vento agita a chama interior da crença é a palavra liberdade. Dos dogmas, adopta-se o que se quer e como se quer ou nem sequer se adopta. E do cristianismo, em si, também.
Este tipo de liberdade é característico da nossa História desde os começos, desde a fundação do país (e é-lhe anterior) e não se encontra presente com a mesma intensidade em países como a Espanha ou a Itália. Sinceramente penso que essa diversidade é boa porque é genuína. A Inquisição fez mal ao país e ainda se notam resquícios na cultura. A delação e a bisbilhotice são alguns deles.
Mas creio ainda que a tónica portuguesa, hoje, está na liberdade de pensamento e de acção e que, o que há, é uma adesão, por vezes, e uma condescendência, noutras vezes, perante a Igreja Católica que nunca substituirá a soberania do povo face àquilo em que acredita e face àquilo que pratica. A frase muito repetida "cada um é como cada qual" define muito bem a indefinição dos portugueses face à religião proposta.

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