quarta-feira, 20 de março de 2019

Género



Estive a consultar a lista de géneros porque senti uma ligeira dúvida e cheguei à conclusão que sou do género "duplo espírito", a caminho do terceiro.
Costumo sair à noite para atacar e ando pelas vielas e calçadas, já sem corpo, e sugo a alma e o espírito das minhas presas de forma a prosseguir com a minha colecção de espíritos que saem à noite para atacar. Mas isto de não se ter corpo é um problema porque tenho que me ir encaixando em vários e alguns não são propriamente perfumados.
Tudo aconteceu numa experiência alquímica lá em casa. Nesses tempos ainda tinha corpo e andava à procura da panaceia, do elixir, da pedra, do graal, enfim, de qualquer coisa que pudesse encontrar. Uma noite, espreitei para dentro do forno e uma força puxou-me para dentro dele. Andei lá às voltas, como numa máquina de levar e, quando saí, não tinha corpo. Tornei-me num espirito que atacava à noite. Apoderava-me dos espíritos, e houve um dia de tal fartura no ataque, que me dupliquei. Passei a ser dois espíritos. E também passei a ver tudo em duplicado. Uma autêntica bebedeira espiritual. Socialmente, a coisa tornou-se complicada. Julgava falar com um espírito, no início, mas depois reparava que eram dois. E ainda havia aqueles que, tendo só um, fingiam um outro porque um dia tinham ouvido falar de um alquimista que tinha sido puxado para dentro de um forno e que quando tinha saído tinha passado a ser um espírito que atacava à noite e, com profunda admiração, queriam ser como ele.
Se me encontrei? Ainda não. Ainda tenho muito que penar. Muitos ataques à noite. Mais de cem.

PS: o género "duplo espírito" existe mesmo. Consta nas listagens de género das Associações que todos os géneros associam.

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