terça-feira, 26 de março de 2019

Facebook: se nem a foca se foca porque já nasceu focada...



Só consigo explicar a minha saída do Facebook com a razão que me fez entrar. Divulgar a minha pintura. Depois percebi que tinha sede de comunicar. E não devia ter comunicado pela inutilidade que isso é numa plataforma como aquela. O meu amigo Nuno disse-me que tinha feito muito bem em sair e disse-me com estas palavras: “O Facebook é bom para ganhar inimigos e perder amigos”. Resumiu muito bem o que se passou. E estou-lhe muito agradecida por esse resumo e ainda por outras coisas que não tem nada a ver com o Facebook. 

Mas há mais.

Aquilo que me levou a sair foi, em parte, o facto de não ter atingido o propósito inicial. Percebi, depois de algumas exposições e da sua divulgação, que as pessoas no geral, cerca de 99,9% não queriam saber do que pintava. Um “gosto” não é uma presença. E nunca ninguém me fez perguntas pertinentes ou que revelassem alguma inteligência sobre o que pintava. O desinteresse era total.

Mas há mais.

O Facebook alimenta-se de polémicas. Parece um pouco a literatura do José Saramago depois de se casar com a Pilar. Uma boa polémica, e a Pilar sabe-o bem, é a maior divulgação… e isso francamente parece-me pouco. Muito pouco. É uma americanice publicitária. “Falar de” bem ou mal, já é “falar de”, ou como os americanos dizem: “Não há má publicidade”. Por acaso até há, mas isso só se passa se o objectivo não forem as vendas…

Mas há mais.

A repetição. A gota de água foi a monotonia. A repetição. Todos dizem sempre as mesmíssimas coisas. Quando acontece alguma coisa, uma tragédia, por exemplo, é sempre a mesma coisa. E quando não acontece nada, as pessoas revelam sempre as mesmas fotografias, os mesmos dizeres, os mesmos radicalismos e os mesmos relativismos em contraponto. Um tédio infindável. O mesmo filme repetido com a bandeira da “novidade” que funciona como uma autêntica droga.

Mas há mais.

Alguns levam essa droga tão longe que utilizam como se fossem traficantes de droga. Mantém as pessoas presas e drogadas, inebriadas com as selfies, com os sentimentos de culpa, com a coscuvilhice, com o bullying.

Mas há mais.

A repressão e o desafio à repressão. O Facebook é uma criação americana que copia modelos das ditaduras para poder manter uma democracia que não passa de uma sinarquia empresarial. Tem o poder e o contrapoder. O governo e o governo sombra. O polícia e o ladrão. A verdade e a mentira. O “Eu” e os “outros”. O Facebook é o novo grande circo de César.

Mas há mais.

O Facebook é ideia de um “isolado”. Quem adere já está de alguma maneira isolado. E quem de lá sai ainda mais isolado se sente depois. Há uma espécie de ressaca. Uma ressaca de uma droga.

O que tenho a agradecer ao Facebook?

A facilidade com que fiz inimigos. A facilidade com que nos faz notar quem é, de facto nosso amigo. Graças a ter passado por ele, e como às tantas, ficamos alerta, esse estado é bom. Os que nunca passaram por Gurdjieff pensam que o estado de alerta é uma coisa menor. Não é. Se não sentirmos a presença do nosso próprio corpo, dormimos em pé. Nunca o estado de alerta foi impedimento para que a pálpebra do olho se fechasse, nunca foi impedimento do sonho. Só um tolo confunde sono com sonho.

Mas só quem estudou algumas coisas consegue sobreviver ao Facebook. Aquela plataforma está aqui para destruir as pessoas. E é um foco de ignorância. É a diferença que existe entre o “foco” e a “concentração”.

 

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