sábado, 16 de março de 2019

Artisticamente falando


Quem cria imagens habitua-se muito cedo à ilusão. E, no entanto, esse impulso de elevar as flores pela letra acima, obriga, desde muito cedo também, a habituarmo-nos às palavras que ecoam por dentro quando se criam imagens. Esse silêncio em que se vai desenhando os caules, o sol nascente, é o mesmo donde vão surgindo palavras, pensamentos na sua maioria absolutamente distantes daquilo que se está a fazer o que é, aliás, a única forma da mão levantar vôo para além de nós. É nesse duplo estado de desconcentração e de concentração que se vai fazendo o trabalho interior. Dá-se espaço ao sonho, dá-se espaço ao pensamento. Eles, desse modo, se vão fundindo, até àquele ponto em que somos indistintos relativamente ao que fazemos ou ao que pensamos. Até a nossa presença deixar de ser necessária por terem os pensamentos e os sonhos, unidos, formado o seu próprio espaço, independentemente de nós e mesmo independente de nós.  E daí retiramos tudo. Eles, os pensamentos e os sonhos, assim unidos, transcendendo-nos, ensinam-nos. E transcendendo-nos a nós próprios, aprendemos.

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