sábado, 9 de março de 2019

O Império do Espírito Santo



Evidentemente que o sonho do V Império ou do Império do Espírito Santo subsiste. Ao contrário da Utopia, não é uma utopia. Está antes inserido na sabedoria dos ciclos cósmicos. E provavelmente, numa outra coisa que se prende com os caminhos paralelos, para usar uma imagem, mas caminhos paralelos que, contra toda a probabilidade lógica se encontram. A Utopia é como a história do condenado a levar a pedra ao cimo do monte e que voltando a cair, de novo o condenado volta a fazer o mesmo percurso. Nasce a utopia como ideia apenas de repetição eterna. Mas uma repetição exacta. Uma espécie de pesadelo, e mais concretamente, uma imagem da negação da vida. Um distúrbio emocional apenas com esse valor. Agora o Império do Espírito Santo insere-se na ideia de ciclo o que faz toda a diferença.

Neste exacto momento há outras realidades. Qualquer poeta menor sabe isto. Quando um poeta menor diz que ama a sua amada, naquele momento é duas pessoas: o homem que ama e o poeta que escreve. Ou o homem que não ama e o poeta que escreve. Ou o homem que ama e o poeta que gostaria de ser. Ou ainda, se imaginar que escreve, o homem que ama e que imagina que está a escrever no próprio acto de amar. Estas duas últimas pessoas são como paralelas que tendem a encontrar-se.

Isto para dizer, que as pessoas são indissociáveis da ideia que prescrevem, que escrevem, que pensam que escrevem, que imaginam já ter escrito. Não sabemos se demos todas as hipóteses mas também pouco importa para a questão. Provavelmente há infinitas variedades da relação do poeta com o seu coração e com a escrita. Mas há, por entre essa infinidade de probabilidades um ponto exacto. Infalível. Dirão que é o mesmo que acertar na lotaria. Nem por isso. A lotaria é a sorte reduzida a um dos seus pontos extremos. Aquilo que está por detrás da palavra sorte é uma outra, mais profunda, mais central, mais antiga e, por isso mesmo, mais complexa e mais próxima da verdade: Fortuna. A fortuna e a roda.

Como se vê, a roda da fortuna é a união daquilo que aparentemente é contraditório. A ideia de ciclo, que nos é dada pela roda e a ideia de acaso. Esta noção aparece também nos jogos em que as bolas giram na tômbola que roda. Estes jogos de sorte e azar são a imagem ténue de um princípio maior que aponta para o “ponto exacto”. A ideia de um Império do Espírito Santo é indissociável da Ideia da Via Seca alquímica. Até porque, mesmo na chamada Via Húmida, existe um ponto, um exacto ponto, que é parte integrante da Via Seca. Se assim não fosse os pratos da balança seriam iguais. Mas não são. Até porque a igualdade nunca foi sinónimo de equilíbrio. Antes pelo contrário. Basta ver o fenómenos das estatísticas que apenas podem colocar em funcionamento qualquer coisa a curto prazo. Nunca a longo prazo. É a previsibilidade a que temos direito.

A relação que existe entre o poeta, o coração, a escrita e o Império do Espírito Santo é total. Ela pode conter o ponto exacto. Aquele que desaprisiona o poeta e o seu coração, a escrita e o Espírito Santo. Utilizei o verbo que não é o verbo “libertar”. Usei o verbo “desaprisionar” . Porque a liberdade se fôr estanque e definida não é liberdade. Daí que tenhamos sempre a sensação de liberdade como coisa utópica, embora não o seja. A utopia é algo que nasce e morre em si mesma  sem nunca alcançar qualquer espécie de libertação. Esta relação entre estes quatro elementos requerem uma conjunção de forças. Quando dizemos forças, podemos dizer qualidades, características, nuances, até, com a vibração necessária, brisas ao invês de vendavais, uma estrela no céu , um trovão. O que há sempre é um ponto exacto em que as paralelas se encontram. É nesta medida que o Império do Espírito Santo é indissociável da Iniciação. Daí que podemos ver que a História das Religiões seja, em grande parte, uma pescadinha de rabo na boca. Um via húmida permanente que nunca encontra o fogo de Sant’elmo. E quando encontra, passa a ser do domínio da Iniciação. Até porque há uma conjunção entre o fogo e a água ou do céu e da terra.

A responsabilidade humana, para além de ser a de guardar o jardim, como é dito na Bíblia,é a de buscar esse ponto exacto. Se só se guarda o jardim, ele pode lá estar ou não. Se se encontra esse ponto, o jardim, por seu lado, está sempre lá.

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