domingo, 17 de março de 2019
História & Geografia
No passado dia 10 de Março, insurgia-me neste blogue, no texto "Bibliografias", contra o facto de se dar, no ensino, cada vez menos atenção às áreas humanísticas. A resposta a esta preocupação veio na última manchete do Expresso que em letras gordas mencionava a intenção do nosso Ministério da Suposta Educação de diminuir a carga horária das disciplinas de História e Geografia.
Isto é muito simples: assisto ao Alvorecer de uma Velha Humanidade que não vai durar muito tempo, tal como as árvores sem raízes não duram. Podia utilizar não sei quantos argumentos mas a comparação com a árvore diz tudo para pessoas inteligentes e que não necessitam de grandes explicações relativamente a esta comparação. Qualquer dia há meia dúzia de pessoas inteligentes para vários milhões de pouco inteligentes (isto para ser elegante - e com isto estraguei a elegância toda) que é tudo o que se quer numa suposta democracia (uma ditadura encapotada, diria antes).
Assisto ao Alvorecer de uma Velha Humanidade que não vai durar muito tempo. O que é pena. Dantes dizia-se que os velhos eram mais sábios mas agora o testemunho, sabotado claro, da sabedoria, foi passado aos mais novos que não têm nem, pelos vistos, devem ter memória.
Dei por mim a perguntar-me se valeria a pena preocupar-me com o destino da Humanidade. Cheguei à conclusão que isso era completamente irrelevante. Ela vai seguir o percurso pelo caminho que traçou até ao abismo. Devo antes preocupar-me com o meu testemunho e, assim, de uma forma absolutamente egoísta, preocupar-me apenas com a minha consciência se der o meu testemunho com a minha vida, as minhas acçōes, as minhas escolhas. Só elas podem contar no meio desta, cada vez mais miserável, humanidade.
No fundo, até há bem pouco tempo, nunca me ralei muito com o destino escolhido pela humanidade, foi só há pouco tempo, uns aninhos, que isso me começou a preocupar. Foi uma verdadeira estupidez da minha parte. Uma espécie de megalomania temporária, porque ninguém, à minha volta parecia preocupar-se com isso. O máximo que alguns faziam era lutar por causas. O ambiente, o voto das mulheres, os direitos e liberdades dos cidadãos. Tudo fragmentos pelos quais as pessoas se dividiam, algumas até por moda, num "vamos a isso" porque "diz que é bom", sem conseguirem articular um frase, um discurso, vindos de si próprios, com princípio, meio e fim.
A minha grande e enorme burrice dos últimos anos foi pensar que as pessoas poderiam pensar pela sua própria cabeça, que poderiam elaborar frases, que conseguiriam explicitar um pensamento ou até um sentimento. Eu queria que as pessoas fossem uma cambada de intelectuais. Que fossem todas inteligentes. Que fossem todas interessadas. Que todas estudassem para saber o que andavam cá a fazer. Que todas fossem freneticamente curiosas. Que fossem despertas. Que conseguissem unir o coração e a razão com a mesma facilidade com que bebem um copo de água. Eu fui uma absoluta e total ditadora dentro de mim. Eu própria não tenha sabido unir a razão ao coração quando este último me dizia tudo o que queria. Até que a razão conquistou todo o território. E desgastou todos os sonhos do coração. E arrasou a humanidade que havia dentro de mim, e me impediu de sonhar, e me impediu de querer. E mostrou-me que tinha inventado um mundo novo dentro de mim e que esse mundo novo só existia dentro de mim e que a humanidade continuava a sua marcha abrupta para o abismo independentemente do que eu quisesse. E que dispensava todos os meus sonhos e não via interesse nas minhas palavras. Nem via sequer interesse nas palavras. Nas histórias. Na História. Na Filosofia. Na Geografia. Na Antropologia. Nos Símbolos. Na Arte. Na Geometria. Nas Estrelas que brilhavam acima de nós. No Mistério. Na Procura. Na Curiosidade. No Ser Humano.
Só queria saber de máquinas e de dinheiro.
E foi assim que vi o Alvorecer do Fim de uma Velha Humanidade. E a seguinte, veio vazia. Com fios. Confortável. E estúpida. Não durou nem um segundo porque essa humanidade já não era uma humanidade. Era outra coisa. Distante do Mistério. Descarnada de conteúdo. Era um impulso eléctrico que nascia e morria em si próprio sem nunca ter ouvido a palavra Mistério. Sem nunca ter ouvido qualquer palavra , aliás. Porque não tinha ouvidos, nem olhos, nem boca como nós. Nada podia saber porque era apenas um impulso eléctrico perdido no espaço.
Foi assim que deixei de ser uma ditadora interna e passei a preocupar-me apenas com a minha consciência e não com a consciência da humanidade. Até porque ela não a tinha.
Guardei a poesia num bolso e o sonho do Império do Espírito Santo no outro e prossegui caminho sem dizer nada a ninguém. E, como dizia a canção Vinícius de Moraes, "cada gesto meu" passou a ser para dizer: "eu sei que vou amar" um dia, eu vou amar, desesperadamente eu sei que um dia eu vou amar, por cada ausência da humanidade eu sei que um dia a vou amar.
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