segunda-feira, 25 de março de 2019

Na via láctea, a rosa


Num espantoso diálogo que ocorreu a determinada altura, a via láctea foi ter com uma rosa e segredou-lhe a sua origem. E disse-lhe:
- A tua origem é tão antiga e tão forte que não se altera. Nem pelo frio, nem pelo calor, nem pelas nuvens, nem pela neve, nem pelo sol, nem pela chuva. Nem quando tudo à tua volta gira, nem mesmo quando levo em mim o sistema solar que gira em torno de ti e por ti passo. És mais antiga do que eu. Tiveste pétalas antes de eu ter as minhas estrelas. Antes de eu jorrar em luz, já tu jorravas o perfume divino, já as tuas pétalas se abriam vertendo sabedoria em todas as direcções, já os teus espinhos eram os atritos vivificantes, já o teu caule ascendia, já as tuas folhas eram sempre novas, já as tuas raízes tocavam o céu que só mais tarde toquei, já o orvalho te cobria pela manhã que és, bordando-te com o brilho que só depois me aconteceu. Passo por ti com uma miríade de estrelas, veloz, e tu tens todos os movimentos possíveis.  Sou o teu cometa e trago-te dentro de mim como meu germe. Caminho para ti. Corro para ti. És a origem da origem. Escuto todas as tuas palavras ocultas.
E esse espantoso diálogo ficou para sempre a acontecer. 

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