segunda-feira, 18 de março de 2019
Fragmentação
A fragmentação actual nacional é semelhante às mais de cem figuras criadas por Fernando Pessoa ao longo da sua vida. Foi o preço da imprudência. E o preço da falta de ligação à Tradição Portuguesa. No outro dia, a Catarina, a quem dou explicações, disse-me que a professora de Português dela, tinha dito na aula que não gostava de Fernando Pessoa. Disse-lhe, em resposta, sem medo: -- Então, Catarina, a tua professora não é professora de Português.
A Catarina vinha indignada, no cimo dos seus onze anos, porque tinha ouvido a irmã mais velha a ler-me, no outro dia, deliciada, um poema de Fernando Pessoa. De maneira que à irmã mais nova, aquilo que a professora lhe tinha dito não fazia sentido. Fez-me lembrar o Cesariny, quando disse: "Tanto Pessoa, já enjoa". Para uns, esta frase corresponde à indignação, de quem a proferiu, do uso e abuso do poeta. Para outros, seria inveja pura e simples. Uma simples frase, divide-se em dois fragmentos.
Mas o fragmento, a parte, é comum. O cata-vento gira em todas as direcções e, no salão todos trocam de par com um grande sorriso. Nos espelhos dele, as caras e os vestidos confundem-se acabando numa massa de cor rodopiante e a música, alta, claro, acompanha em desarmonia esta convulsão de gentes, opiniões, parelhas convenientes, usufrutos de uma pseudo-liberdade e de uma pseudo-felicidade. As vítimas fazem-se de heróis e os heróis de vítimas, quando os há. A maioria nem é uma coisa nem outra. São des-sonhados e sub-desenvolvidos no sonho.
A fragmentação de Pessoa, correspondia, na época, aos estilhaços do Estado de Guerra na Europa. Foi uma época triste e sombria. Estes fragmentos de hoje, são vidas inteiras, fragmentadas, rápidas, como balas estilhaçando os seres que variam e desvariam conforme as distâncias do que querem, sobretudo, ter, não ser.
Seria necessária uma intervenção do "alto" para recompor alguns corações fragmentados. Isto se o alto estiver minimamente interessado em compôr o quer que seja.
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