domingo, 3 de março de 2019

Ignorância


Como povo da finisterra temos responsabilidades e o previlégio de poder observar o sol, na maioria das noites, a afundar-se no oceano, estranho mergulho do fogo na água. Este segundo aspecto sintetiza a obra e é um direito natural com toda a complexidade que o "natural" implica. Já o primeiro, é um dever. Entre essas responsabilidades pudemos inumerar várias que estão directamente ligadas à ignorância.
Negar o aspecto profético nalguns dos nossos poetas submetendo-os a questões psicológicas é desvirtuar a origem das suas palavras encaminhando a sua leitura para a dimensão do chamado "eu poético"  como se  este se sobrepusesse àquilo que é o caminho de um país. Se nesses poetas acontece um ponto de intercessão entre a sua vida e a vida do país, é sem dúvida este último o princípio e o fim da sua poesia e não a vida do poeta que é apenas a cruz da rosa.
Negar que existem um conjunto de ritos nacionais, suportados por determinados símbolos que são a base do caminho do país é pura e simplesmente não os conhecer. Essa negação é sempre feita por quem não foi introduzido nesse mundo simbólico.
Negar que este é um país iniciático, ou seja, que esses símbolos visíveis e esses ritos que permanecem secretos e invisíveis  são exclusivamente portugueses e muito arcaicos, muito anteriores à Revolução Francesa, sem deixarem de ser tradicionais, é não conhecer a verdade fundamental que anima o caminho de Portugal.
Posto isto, existem por aí inúmeros comentários que ficam pela rama do que é verdadeiramente o papel da poesia, a natureza dos símbolos em Portugal, a qualidade dos ritos portugueses e a  infalibilidade da Iniciação.
Relativamente a isto só há e só pode haver o dever da responsabilidade que só pode ser exercida pela leitura de autores portugueses, tanto poetas que cantaram o nosso país como de pensadores ou pensadores-poetas que sobre ele se debruçaram. E este é apenas o primeiro passo, apenas introdutório, da escuta da voz dos poetas como profetas, da aprendizagem dos símbolos como portais para outras realidades... O rito e a iniciação pertencem já um um outro estado, impossível de ser escrito ou falado sequer devido ao seu carácter secreto e invisível. A questão de Portugal é de uma delicadeza tal que não se coaduna com opiniões baseadas apenas em impressões sensíveis. No entanto se, no início, não se ouvirem as vozes dos poetas como profetas tudo o mais, símbolos, ritos e iniciação, estará vedado até ao mais sincero dos interessados. Aliás, uma vez lidos com o seu verdadeiro timbre profético, deixa de haver interesse e passa a existir uma outra coisa chamada desejo. É exactamente esse desejo e essa sinceridade que os deuses escutam. O restante nem ouvem.

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