terça-feira, 26 de março de 2019

De rosa ao peito

Tenho um irmão que sempre quis ser pastor e, por isso, foi viver para a Serra da Estrela. Arranjou lá umas ovelhas. É o meu Caeeiro. Tenho outro que é o Álvaro de Campos, vive na Alemanha e trabalha numa fábrica. E ainda mais um, classicista. Anda pelos palácios à noite. Chamo-lhe "O Reis", mas tem qualquer coisa de Poirot. Anda sempre com uma lupa a tentar descobrir portas secretas. Portas clássicas. 
Quando nos encontramos, é uma festa. Portuguesa. Pão e vinho sobre a mesa. Faço sempre uma bonita mesa. Com dois candelabros e o oposto que é uma jarra com flores para dar um ar tétrico e primaveril à refeição. Depois, claro, falamos de rosas. As negras, as vermelhas e as brancas. Cada um traz a sua ao peito. A minha é transparente de maneira que nenhum deles dá por ela. À mesa, coloco um labirinto de pedra. E eles perdem-se nele. Perdem-se nas palavras. Prosseguem por ele, com as rosas ao peito. A transparente que é a minha, reflecte a saída. As vezes dão com ela por acaso. Outras vezes, tenho que lhes dar uma ajuda e estendo-lhes a minha rosa. Por fim, acabam por sair todos, a rir a a conversar de copo na mão e palavras ao vento. Pão e vinho sobre a mesa. E o mar ao fundo. Transparente como a minha rosa. Como só ele sabe ser. E o tempo e o espaço do labirinto também. Tão antigo, tão profundo que ele é.




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