segunda-feira, 11 de março de 2019

Bibliografias




Na Universidade o professor faz-se acompanhar de livros (estou a falar das áreas humanísticas porque as científicas pensam que não necessitam das humanísticas para nada), assim, podemos apanhar professores chatos, desinteressantes, até mesmo ignorantes, tendenciosos, lunáticos, ou excelentes, mas temos sempre os livros.
As palestras raramente são encaradas como aulas. Ou seja, vai-se a uma palestra para se receber conhecimento. Às aulas, a muitas delas, vai-se por obrigação, outras, menos, vai-se por gosto. A uma palestra vai-se sempre por gosto. Na Universidade, por muito gosto que haja nas aulas há sempre a obrigação de ler determinados livros (ou havia porque agora com os cursos-rápidos de três anos quase não há tempo, nem para ler, quanto mais para digerir - é o que dá tratarem as áreas humanísticas da mesma maneira que tratam as áreas tecno-científicas), nas palestras não. Bebe-se a sabedoria, ou não, do palestrante e vai-se para casa bem bebido e já nem se tem  cabeça, nem vontade, nem interesse para  ler o que seja, tal é a bebedeira. Foi assim que nasceu o provérbio "em terra de cegos quem tem olho é rei". Agora, mais do que nunca, isto é assim. A palestra é o trabalho de casa que fica por fazer, antes e depois dela... Daí que no fim se diga sempre que foi muito "interessante", com um olhar vago e perdido, típico do "copo a mais" e que não se consiga dizer muito mais, tal o estado em que se encontram os ouvintes.
Antigamente havia as tertúlias, que metiam vinho, mas as pessoas estavam menos alcoolizadas do que estão depois de uma palestra. Eram mais activas e até botavam discurso, alguns com princípio, meio e fim. Mas isso era dantes. As tertúlias tornaram-se demasiado íntimas para esta sociedade asséptica e até obrigavam à presença de alguns que até sabiam mais, o que é intolerável nesta sociedade tão, mas tão tolerante e democrática.
Bem, isto tudo para dizer que, as bibliografias são muito importantes e que o verdadeiro estudo, (à falta de tertúlias e da presença nelas de alguém que saiba mais do que os outros - a presença física é importantíssima) é coisa de solitário, o que também não encaixa muito bem nesta sociedade-espectáculo que se julga espectacular. São importantes porque são ramos de árvore que se abrem para quem quiser estudar e não dizer simplesmente, "é muito interessante".
Assim, o conselho que dou a quem nunca mo pediu (o que também é contra-democrático porque numa democracia, é sabido, todos sabem bem o que querem - seria bom se fosse realidade mas é só literatura - e a quem pedir conselhos...), o meu conselho dizia, é que construam o vosso edifício... Com as bibliografias e os autores que remetem uns para os outros. Depois, e só depois, talvez se possa largar a palavra "interessante" e começar a botar discurso com princípio meio e fim,  começar a fazer palestras que, em princípio, têm um orador lúcido e ouvintes "tocados". É, como se vê, uma forma de comunicação um tanto ou quanto estranha e desequilibrada...
Uma vez esgotado esse modelo da palestra e experiênciado como algo um pouco bizarro (ainda mais bizarro do que as minhas pinturas), então sim, já se está apto para a palavra puxa palavra da tertúlia.
Os que escrevem, simplesmente, são doidos, mas são eles que alimentam as bibliografias. Talvez, por vezes, dessa loucura da escrita possa sair alguma sabedoria, mas cabe a cada um descobrir isso, se não se ficarem, lá está, por um único livro. O livro "da minha vida". O livro da vida é outra coisa e pode conter imensos livros. Ou então façam uma tertúlia. Vá lá... coragem.

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