Não me fales mais pelo silêncio
Porque o meu preenche todos os espaços
E não necessito do teu
Por mais que queiras falar pelo silêncio
Porque o meu preenche todos os espaços
E não necessito do teu
Por mais que queiras falar pelo silêncio
Não espero outra coisa que não seja a tua voz
Cansei-me dos teus olhos
Do teu cabelo
Do teu medo
Cansei-me dos teus olhos
Do teu cabelo
Do teu medo
Não silencies porque o universo
Não quer saber do teu silêncio para nada
Nem eu, que sou todo o universo
Não quer saber do teu silêncio para nada
Nem eu, que sou todo o universo
As vozes passaram a ser música
Aquelas da música tradicional
Quando a voz do povo se solta
E o Universo faz uma vénia
Aquelas da música tradicional
Quando a voz do povo se solta
E o Universo faz uma vénia
Se silencias o universo silencia
Não quer saber das tuas leituras
Dos teus "acho que" silenciosos
Das tuas manias encurraladas no tempo
Não quer saber das tuas leituras
Dos teus "acho que" silenciosos
Das tuas manias encurraladas no tempo
Só tu podes mudar o tom do teu silêncio
Fazendo-o falar
De nada serve que não queiras
Ou que não possas
Fazendo-o falar
De nada serve que não queiras
Ou que não possas
Não é a mim que o Universo despreza
É a ti, nessa solidão silenciosa embasbacada
Só porque alguém te a ordenou
É a ti, nessa solidão silenciosa embasbacada
Só porque alguém te a ordenou
Não dou a mão aos silêncios
Tenho em mim todo o silêncio do Universo
E não quero mais, quero esquecê-lo
Como se tivesse andando mil anos
Numa nave, pelo espaço
Tenho em mim todo o silêncio do Universo
E não quero mais, quero esquecê-lo
Como se tivesse andando mil anos
Numa nave, pelo espaço
As estrelas só me encantam
Quando as ouço
E a sinfonia do sol
Não se compara ao silêncio negro
A cobrir a existência de todos nós
Quando as ouço
E a sinfonia do sol
Não se compara ao silêncio negro
A cobrir a existência de todos nós
A fatia da realidade mais colorida
É a mais colorida fatia da realidade
E nada mais há para além disso
É a mais colorida fatia da realidade
E nada mais há para além disso
Um simples som
E o Universo responde
Com um acorde acima
Num crescendo que não se sabe
Onde vai parar
E o Universo responde
Com um acorde acima
Num crescendo que não se sabe
Onde vai parar
Já ouviste, de facto, a música das esferas?
Temo que Pitágoras quisesse dizer mais
Do que comummente se diz que ele disse
Temo que Pitágoras quisesse dizer mais
Do que comummente se diz que ele disse
Se lhe tirarmos a geometria, fica a alma
E é essa que nasce da geometria
Em forma de música
Vês como o teu silêncio para nada serve?
E é essa que nasce da geometria
Em forma de música
Vês como o teu silêncio para nada serve?
O teu silêncio é geométrico e frio
Como a arquitectura moderna
Nem o universo é assim, nem eu
O teu silêncio é o embaraço da palavra
A nave vazia pelo espaço
Um sem número de máscaras todas iguais
Um fragmento de um papiro mal lido
O sal a mais na textura da vida
O cardume perdido e disperso
O maior logro para ti mesmo
Sabe-se lá onde vão parar as palavras ditas
Mas não param nem se detêm no silêncios
Que só querem saber de si
A metafísica? Está na física.
A metafísica da metafísica não existe
E andas fardado de metafísica sendo metafísico?
Não existes. És só silêncio.
Sou o universo e estou por todo lado, até na metafísica que julgas chamar
Pelo silêncio.
Não fales pelo silêncio.
Ele é demasiado grande para ti
E, mais tarde, abater-se-á sobre ti
Como o céu se abate sobre os néscios
E tu te abaterás sobre ele, néscio mudo
O teu silêncio é vago demais para a minha verdade.
(Cynthia Guimarães Taveira)
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